Folha de S. Paulo


Para estudo, mais terapia e menos remédios melhoram esquizofrenia

A diminuição de consumo de medicamentos antipsicóticos aliada à ampliação das sessões de terapia, com apoio familiar, pode ajudar no tratamento de pacientes com esquizofrenia, indica uma pesquisa americana.

O estudo foi publicado na edição desta terça-feira (20) da revista científica "The American Journal of Psychiatry", e foi financiado pelo Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos.

Os dados obtidos revelam que o tratamento com terapia, participação familiar e menos medicamentos tiveram mais sucesso no controle da doença nos dois primeiros anos do que os pacientes que continuaram o tratamento medicamentoso.

A divulgação dessa pesquisa acontece em um momento em que o Congresso americano analisa a reforma da saúde mental. O interesse na eficácia dos tratamentos cresce em meio ao debate sobre o possível papel da doença mental em assassinatos em massa nos EUA.

O principal tratamento para os cerca de 2 milhões de americanos diagnosticados com a doença é uma forte dose de medicamentos antipsicóticos, que bloqueiam alucinações e delírios. Esses remédios, contudo, podem também acarretar ganho de peso e tremores aos pacientes.

A nova descoberta, segundo especialistas, pode ajudar a estabelecer um novo padrão de atendimento no primeiro estágio psicótico.

Nessa fase, que acontece geralmente entre o final da adolescência e os vinte e poucos anos, o indivíduo sofre a primeira ruptura com a realidade e fica com medo e profundamente desconfiado.

Os antipsicóticos usados no combate da doença funcionam muito bem para uma parte das pessoas, que conseguem eliminar a psicose com baixos efeitos colaterais.

A maioria, contudo, sofre mais seus efeitos adversos. Estudos mostram que 75% das pessoas deixam de tomar a medicação em um intervalo de um ano e meio.

Infográfico: Esquizofrenia

TRATAMENTO

Alguns médicos ficaram bastante empolgados com os resultados."Estou positivamente surpreso com o fato de eles conseguirem conduzir esse estudo com tanto sucesso, e ele claramente mostra a importância de uma intervenção mais rápida", disse William Carpenter, professor de psiquiatria na Universidade de Mearyland, que não participou do estudo.

No estudo, os médicos usaram os medicamentos como parte de um pacote de tratamentos e as doses foram ajustadas para serem as menores possíveis –até 50% menor–, minimizando efeitos colaterais.

Para realizá-lo, a equipe liderada por John Kane escolheu aleatoriamente 34 clínicas em 21 Estados americanos.

Foram recrutados 404 pacientes que tiveram o primeiro episódio de psicose, diagnosticado na adolescência ou na terceira década de vida. Metade recebeu o tratamento tradicional, para comparação.

No final, os participantes que utilizaram o novo método proposto gozavam de um maior alívio dos sintomas e relatavam estar vivendo melhor. Eles também usavam doses 20% a 50% menores que os outro grupo, disse Kane.

O estudo americano é um novo elemento em uma tendência "antirremédio". Outro estudo publicado em 2014, com 13.164 pessoas, já havia apontado que a conversa com um terapeuta pode ser mais efetiva do que tomar remédios para ansiedade.


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