Folha de S. Paulo


Cirurgia inédita no Brasil trata caso grave de aneurisma cerebral

Em procedimento inédito na América Latina, uma mulher de 68 anos foi operada de um aneurisma cerebral grave no Hospital de Transplantes do Estado de São Paulo

Luisa Alves Marinho, 68, que mora no interior de Tocantins, sentia fortes dores de cabeça e decidiu se consultar com um médico.

"Não podia abaixar a cabeça que ficava tonta e sentia muita dor. Parecia que a cabeça estava cheia de água", diz Luisa. "Fizeram uma tomografia e confirmaram que eu tinha um aneurisma."

Orientada pela família, ela veio se tratar em São Paulo .

O procedimento consistiu na aplicação simultânea de duas técnicas já utilizadas no tratamento de aneurismas cerebrais: a terapia endovascular e microcirurgia.

Na terapia endovascular, um cateter inserido na artéria femural leva até o vaso afetado um microbalão. Quando chega na área crítica, ele é inflado. Assim, ele impede a circulação de sangue na região. isolando o aneurisma.

Na microcirurgia, os médicos colocam um clipe de titânio na base do aneurisma. A intenção é excluir o aneurisma da região cerebral sem prejuízo da circulação sanguínea em outras áreas que não estejam doentes.

"Os médicos que lidam com o tratamento da doença acabam optando por uma técnica ou outra, de forma isolada", diz Sérgio Tadeu Fernandes, neurocirurgião que comandou o procedimento.

Em Luisa, as duas técnicas foram simultâneas –em um único procedimento.

"Começamos o procedimento com a microcirurgia até chegar na lesão. Uma vez que o aneurisma foi exposto, a outra equipe passou o cateter. Na hora em que eles insuflaram o balão, colocamos o clipe", conta Fernandes.

Inflado, o balão mantém o vaso no tamanho desejado e funciona como molde na hora de colocar o clipe na região.

A cirurgia, que poderia ter levado oito horas, foi feita em cinco horas. Isso porque, segundo o médico, a combinação das duas técnicas permitiu que ele escolhesse versões mais simples de cada uma.

"Essa situação, especialmente no Brasil, é revolucionária, porque passamos a ver as duas como ferramentas complementares. É uma importante forma de tratar a doença", afirma.

O aneurisma cerebral é uma dilatação que se forma na parede de um vaso no cérebro. Em casos comuns, ele afeta apenas parte do vaso, mas o caso de Luisa era bastante grave (de 5% a 10% dos casos), porque envolvia toda a circunferência do vaso sanguíneo. "Não conseguíamos ter ideia do que era aneurisma e do que era vaso", disse Fernandes.

Luisa agora passa bem. Recuperada, diz pensar em voltar para Tocantins. "Estou em São Paulo desde novembro e não voltei mais", disse.


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