Folha de S. Paulo


Ayahuasca melhora depressão em estudos brasileiros

"Tome 150 ml desse chá de folhas chacrona com cipó-mariri uma vez por mês e volte daqui seis meses para avaliação", poderá dizer um médico para seu paciente depressivo no futuro.

Pesquisas desenvolvidas por cientistas da USP de Ribeirão Preto mostram que a bebida ritualística (única maneira de consumo legal no Brasil) conhecida como ayahuasca ou daime tem propriedades antidepressivas e é capaz de agir rapidamente, em poucas horas. Os efeitos duram por pelo menos três semanas.

William Mur/Editoria de Arte/Folhapress
Ayahuasca para tratamento da depressão

Segundo o psiquiatra Jaime Hallak, que lidera os estudos, a ayahuasca tem potencial a ser explorado.

Um estudo publicado em 2014 na "Revista Brasileira de Psiquiatria" que ganhou repercussão internacional mostrou que após a ingestão de um copo (entre 120 e 200 ml, de acordo com o peso da pessoa) do chá, os sintomas de depressão foram reduzidos em média 80%, avaliados com questionários preenchidos pelos pesquisadores.

Hallak diz que os pacientes não foram orientados ou influenciados durante as alucinações produzidas nas primeiras horas após a ingestão.

Em um novo estudo do grupo, ainda não publicado, os cientistas mostram que a ayahuasca age na mesma área do cérebro que os antidepressivos: na região límbica.

O próximo passo, já em andamento, é a realização de um estudo com voluntários divididos aleatoriamente em grupos, sem que ninguém sabe exatamente o que está tomando, para garantir que não é a expectativa de estar tomando a ayahuasca que está causando o efeito.

Para a psiquiatra Ana Cecília Marques, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas, é preciso ter cuidado com a novidade. O perigo seria o uso da droga fora dos rituais ou do contexto de pesquisa.

"Como não é um antidepressivo tradicional, ainda não sabemos se as substâncias que compõe o chá causam dependência, o que poderia ser um risco bem sério para se assumir. É como os estudos com THC [substância psicoativa da maconha]: todo cuidado é pouco, mas para isso temos a ciência."

Outros estudos já mostraram que a ayahuasca também consegue atenuar sintomas de ansiedade.

Hallak conta à Folha que, com todo esse potencial farmacológico a ser explorado, já existem farmacêuticas interessadas em achar uma formulação na qual os princípios ativos da bebida pudessem ser administrados com mais segurança e menos efeitos colaterais.

Um dos problemas é que a bebida é "suja" e não contem somente os princípios-ativos DMT e THH (veja infográfico).

"Claro que há contaminantes, que podem ser responsáveis pelos efeitos colaterais". Em média 50% das pessoas que bebem o daime têm náuseas e/ou vomitam.


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