Folha de S. Paulo


Por sobrevivência, redes de fast food anunciam menus mais saudáveis

O "número 1" do cardápio continua sendo o sanduíche com dois hambúgueres, alface e 494 calorias, mas desde o início do ano o McDonald's Brasil também oferece duas novas opções de salada e um lanche com pão integral e frango grelhado.

A iniciativa da rede de fast food não é a única: uma onda saudável parece ter atingido os principais restaurantes de comida rápida do país.

No Bob's, duas novas saladas com frango entraram no cardápio neste ano. No Giraffas, os lanches com batata frita e refrigerante sumiram do menu infantil em 2014. As únicas opções para crianças agora são pratos com arroz, feijão, carne e salada.

As mudanças por aqui seguem uma tendência mundial. Em março, nos EUA, o Burger King tirou o refrigerante do cardápio infantil, e o McDonald's anunciou que vai oferecer produtos de frango sem antibióticos usados em humanos (a medida também foi adotada na América Latina, incluindo o Brasil).

Outras redes gringas, como Taco Bell, de comida mexicana, afirmaram recentemente que vão tirar conservantes, corantes e gorduras trans dos seus produtos e buscar alternativas naturais.

A revolução saudável não aconteceu à toa: enquanto redes tradicionais de fast food enfrentam perdas de faturamento no mundo todo, marcas alternativas, que já nasceram apoiadas na bandeira da alimentação saudável, crescem.

Em 2014, as vendas globais do McDonald's caíram 1% –descontando novas lojas. Por aqui, os números ainda são favoráveis: no primeiro trimestre deste ano o faturamento aumentou 3% em relação ao mesmo período de 2014.

Enquanto isso, o Seletti, rede de comida saudável, espera que o faturamento aumente 45% em 2015.

"Temos pesquisas de mercado mostrando que a saúde é um fator preponderante na escolha do consumidor. Para a sobrevivência de todo o setor de alimentação, as redes têm que oferecer opções saudáveis", diz João Baptista da Silva Júnior, coordenador do Comitê de Alimentação da ABF (Associação Brasileira de Franchising).

Segundo ele, o crescimento do setor nos dois últimos anos não foi suficiente para cobrir a inflação.

"É um movimento essencial e foi uma evolução natural, não uma reação à concorrência", diz Ricardo Guerra, diretor de marketing do Giraffas. Além de mudar o cardápio infantil, a rede também tirou as bebidas e as batatas grandes do menu (veja mais mudanças acima).

"É o mínimo que eles podem fazer. Há uma pressão, um controle social sobre isso", afirma Nilce de Oliveira, socióloga e professora da Universidade Federal da Bahia.

Nos dois últimos anos, ela coordenou uma pesquisa sobre o hábito alimentar de famílias de bairros pobres de Salvador.

"Mesmo nas classes mais baixas já fica claro que os valores da alimentação saudável e da longevidade estão difundidos. Ouvi frases do tipo: 'Meu marido não dispensa feijoada, mas nossa feijoada agora é light."

O discurso em prol da boa alimentação e a maior oferta de produtos saudáveis, no entanto, ainda não se traduzem em números: os índices de obesidade no Brasil continuam crescendo –52,5% da população adulta do país tem excesso de peso, segundo o Ministério da Saúde.

"A mudança de hábito é lenta e difícil. Ainda hoje, a maioria das opções de comida de rua são obesogênicas. Nas lanchonetes, as opções mais leves são minoria", continua Oliveira.

Por exemplo, o Burger King no Brasil vende 22 tipos de lanche (um com frango grelhado) e uma salada. O Bob's tem 20 sanduíches (um com frango grelhado e três lanches naturais) e quatro saladas.

Fernando Mola/Folhapress

NEM TÃO SAUDÁVEL

Além de serem minoria, as opções leves dos fast food não são tão saudáveis quanto parecem, segundo a nutricionista Ana Beatriz Baptistella, da VP Consultoria.

"E mais marketing do que outra coisa. Os molhos das saladas normalmente são ricos em glutamato monossódico e gorduras hidrogenadas", afirma.

Já os sanduíches com frango grelhado muitas vezes são cheios de molhos à base de maionese, alerta a nutricionista funcional Daniela Jobst.

"Tem várias pegadinhas... Salada com frango empanado, em vez de grelhado. E muitos alimentos são cheios de conservantes. É um pão que dura demais, uma carne que foi processada há não sei quanto tempo, suco industrializado cheio de açúcar", diz.

Para ela, redução de sódio ou de calorias não quer dizer necessariamente comida saudável. "Quanto mais industrializado, pior. Quanto mais natural, melhor. Difícil uma rede de comida rápida oferecer algo natural", diz.
A nutricionista Ana Clara Duran, pós-doutoranda na Universidade de Illinois (EUA), lembra que o melhor fast food brasileiro ainda é a comida por quilo. "Certamente tem opções mais saudáveis e mais naturais que as redes de fast food."

OUTRO LADO

O McDonald's informou por meio de nota que desde 2011 faz reformulações para reduzir o teor de sódio, açúcar e o número de calorias dos produtos. "O McDonald's oferece a seus clientes ingredientes de alta qualidade, os mesmos encontrados nas casas dos consumidores."

O Giraffas afirmou que os pratos "são desenvolvidos e avaliados por nutricionistas para oferecer o valor nutritivo necessário em uma refeição balanceada".

Segundo o Bob's, é possível incluir ou excluir itens dos pedidos, como por exemplo, pedir uma salada sem molho. "Estamos sempre acompanhando os movimentos do consumidor e seus desejos."

O Burger King informou que está "no DNA da rede a preocupação em oferecer um cardápio que atenda às necessidades de todos os nossos clientes" e que disponibiliza a tabela nutricional em todos os restaurantes.


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