Folha de S. Paulo


EUA restrigem uso de testosterona para combater envelhecimento

Homens não devem usar testosterona, a menos que haja comprovação por exames de que os níveis do hormônio estejam realmente baixos.

O alerta é da FDA (agência que regula alimentos e remédios nos EUA), que no início no mês emitiu orientações sobre o uso de produtos à base do hormônio e chamou atenção para o aumento de riscos, como infarto e derrame (AVC). Veja entrevista com professor de medicina da Universidade de Boston sobre o assunto.

Desde 2001, receitas de testosterona a homens americanos mais do que triplicaram –1,7 milhão têm usado os suplementos hormonais.

Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

Na TV, anúncios mostram bonitões de meia idade cansados e sem desejo sexual, e atribuem os sintomas a uma nova "doença": "Baixa T" ou baixos níveis de testosterona.

Em menor escala, o Brasil segue caminho parecido. A venda de remédios com testosterona subiram 28% entre 2011 e 2014 (até fevereiro)–de 1,85 milhão de unidades para 2,32 milhões, segundo dados da IMS Health.

Endocrinologistas e geriatras dizem que o maior consumo tem sido nas terapias "antienvelhecimento", para as quais não há evidência de benefício, segundo a FDA.

Para a agência, a prescrição só deve ser feita a homens com hipogonadismo, situação que leva os testículos a não produzirem o hormônio em níveis adequados.

Ao menos duas sociedades médicas brasileiras, a de geriatria e a de endocrinologia, endossam o alerta da FDA.

Segundo o médico Rubens de Fraga Júnior, conselheiro da sociedade de geriatria, uma minoria (0,5%) dos homens é portadora de hipogonadismo e pode necessitar de reposição com testosterona.

Em 2013, estudo publicado na revista da Associação Médica Americana ("Jama") mostrou que um quarto dos homens usando testosterona não tinha feito testes para verificar os níveis do hormônio antes da prescrição.

"Muita gente tem usado o hormônio como se fosse o 'elixir da juventude' para o cansaço, falta de libido. É um equívoco gigantesco", diz o endocrinologista Alexandre Hohl, presidente da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).

Ele explica que, em 90% dos homens, o processo de envelhecimento levará a uma diminuição gradual da testosterona, mas nem por isso haverá sintomas. Quando a queda é abrupta (em 10% deles), em geral está associada a problemas como diabetes, obesidade e sedentarismo.

Nos EUA, por determinação da FDA, fabricantes de produtos de testosterona (como desodorantes e adesivos) terão que deixar claro nos rótulos os usos aprovados e os riscos cardiovasculares associados ao hormônio.

No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estuda alterar a forma de prescrição da testosterona. Uma ideia será só permitir a venda com numeração fornecida pela vigilância local para cada receituário, mas isso ainda deverá passar por consulta pública.


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