Folha de S. Paulo


Conhecida desde 1962, ibogaína ainda tem seus efeitos estudados

Foi em 1962 que as potenciais propriedades terapêuticas da ibogaína foram, sem querer, descobertas.

O norte-americano Howard Lotsof era um jovem de 19 anos viciado em heroína que busca um novo barato quando experimentou um pó amargo extraído de uma planta do oeste da África que prometia mais de 36 horas de viagens alucinógenas.

A experiência foi um marco na vida de Lotsof por causa de um efeito inesperado: desde então, ele nunca mais teve vontade de usar heroína ou qualquer outra droga.

"Dali em diante, fiquei careta", declarou ao diário "New York Times" em 1994, 16 anos antes de morrer em consequência de um câncer de fígado.

Lotsof dedicou a vida a campanhas em prol do estudo científico dos efeitos da ibogaína no tratamento da dependência química e da regulamentação e sistematização do uso medicinal da planta, que permanece proibida nos Estados Unidos.

Ele fez estudos e os divulgou em publicações científicas e fomentou estudos de pesquisadores de dependência química, como a neurocientista Deborah Mash, da Universidade de Miami. Juntos, eles obtiveram autorização do governo dos EUA para conduzir testes com a ibogaína, mas nunca conseguiram recursos suficientes para um estudo do tipo.

Diversas pesquisas em camundongos foram conduzidas nos EUA, mas poucos estudos foram até agora feitos com humanos. A tendência, no entanto, é de aumento.

"A comunidade científica ligada à dependência química tem retomado os estudos ligados à terapia lisérgica", explica o psiquiatra e pesquisador Dartiu Xavier, do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Trata-se do uso de substâncias alucinógenas como LSD, peiote, ayahuasca (utilizadas no Brasil em rituais do Santo Daime) no tratamento da dependência química.

Iniciados no final dos anos 1950, esses estudos foram abolidos a partir dos anos 1970 por causa chamada guerra às drogas. "Esses estudos viraram coisa do demônio e ninguém podia mais fazer ciência", conta Xavier, que inicia agora uma pesquisa sobre os efeitos terapêuticos da ayahuasca.


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