Folha de S. Paulo


Nasce primeiro bebê de uma mulher que recebeu transplante de útero

Pela primeira vez no mundo, uma mulher deu à luz após receber um transplante de útero, informou nesta sexta (3) o médico que realizou o procedimento, na Suécia.

A mãe, de 36 anos, recebeu o útero de uma doadora próxima à família no ano passado. O bebê –um menino– nasceu prematuro, mas saudável, no último mês. Mãe e filho estão em casa. As identidades da mulher e do pai não foram reveladas.

"O bebê é fantástico", disse o médico Mats Brannstrom, professor de obstetrícia e ginecologia na Universidade de Gothenburg, que liderou o estudo do qual a mulher fez parte.

O feito abre uma nova mas ainda experimental alternativa para mulheres que não podem engravidar por terem perdido o útero para um câncer, por exemplo, ou por terem nascido sem o órgão.

A iniciativa é controversa. A principal questão é se, do ponto de vista ético, o risco vale a pena para a doadora, a receptora e o bebê.

"Além do risco cirúrgico, a receptora do útero terá que tomar drogas imunossupressoras. Não sabemos o impacto disso, a longo prazo, para o bebê", afirma o médico Artur Dzik, diretor científico da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.

Segundo ele, há alternativas (como o útero de substituição, a chamada "barriga de aluguel") mais seguras para a mulher que não tem útero e deseja um filho biológico. "Me parece muita vaidade do médico e da paciente."

Para Dzik, o transplante de útero não deve se tornar comum. "O transplante foi criado para salvar vidas. Você transplanta a córnea, a pessoa volta a ver. Transplanta o rim, ela sai da diálise."

Para os novos pais, no entanto, os anos de pesquisa valeram a espera. "Foi uma jornada muito difícil, mas nós agora temos o bebê mais maravilhoso do mundo", disse o pai. "Ele é lindo e nem chora, apenas resmunga."

Brannstrom e seus colegas transplantaram úteros em nove mulheres ao longo dos últimos dois anos como parte de um estudo, mas complicações forçaram a remoção de dois desses órgãos.

O médico implantou embriões nas outras sete mulheres. Ele disse que há duas outras gestações em andamento com ao menos 25 semanas.

Antes desses casos, houve duas tentativas de transplantar um útero –uma na Arábia Saudita e outra na Turquia– que não resultaram em bebês.

Médicos na Grã-Bretanha, França, no Japão, na Turquia e em outros países estão planejando operações similares, mas usando doadoras mortas em vez de vivas.

A paciente sueca tem ovários saudáveis mas nasceu sem útero –uma síndrome que afeta uma em 4.500 meninas. Ela recebeu o útero de uma doadora de 61 anos, que já havia passado pela menopausa após ter dois filhos.

Seis semanas após o transplante, ela teve sua primeira menstruação –sinal de que o útero estava bem. Após um ano, foi implantado um embrião produzido em laboratório com o óvulo da mulher e o esperma de seu parceiro.

A mulher, que tem apenas um rim, teve três episódios de rejeição, inclusive durante a gravidez, resolvidos com o uso de medicamentos.

A gestação ia bem até a 31ª semana, quando a mãe desenvolveu pré-eclampsia (aumento da pressão arterial). Foi feita uma cesariana, e o bebê nasceu com 1,77 kg.

Detalhes sobre o caso serão publicados na revista científica "Lancet". Brannstrom disse que estava preocupado com a chance de terem lesionado o útero com o corte da cesariana. Eles terão que aguardar alguns meses para saber se a mãe poderá ter uma segunda gravidez.

Para os pais, a ideia de um segundo bebê ainda é prematura. "Nesse momento, estamos felizes com apenas um bebê", disse o pai.

Colaborou CLÁUDIA COLLUCCI


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