Folha de S. Paulo


Novas infecções por HIV crescem 11% no Brasil e caem 27,6% no mundo

Um relatório anual divulgado nesta quarta-feira (16) pela Unaids, a agência da ONU dedicada à luta contra a Aids, aponta que o Brasil enfrenta um recrudescimento da epidemia da doença.

Segundo o texto, o país registrou aumento de 11% do número de infecções por HIV de 2005 a 20013, enquanto no mundo houve uma queda de 27,6% nesse mesmo período.

Na América Latina, a tendência também é de diminuição, ainda que lenta –em cinco anos, o número de novos casos caiu 3% na região.

Os dados do relatório, de acordo com Jarbas Barbosa, secretário de vigilância em saúde do Ministério da Saúde, são estimativas coerentes com os registros nacionais.

Segundo ele, a epidemia no país está concentrada em populações vulneráveis, como gays, prostitutas e usuários de drogas. "Países de epidemia concentrada têm um desafio maior, porque o número [de infectados] não é grande, mas essas populações têm barreiras de acesso aos serviços de saúde", diz.

Hoje, 0,4% da população brasileira tem HIV.

A situação brasileira, afirma ele, é semelhante à de países da Europa e dos EUA e diferente da de locais com epidemia generalizada, como em alguns países da África, onde a maior diminuição foi registrada.

Ele afirma que políticas de saúde, como oferta de tratamento, surtem um efeito mais rápido nesses países que têm maior disseminação do vírus.

Dado isso, Barbosa afirma que uma possibilidade em análise para explicar o aumento apontado pelo relatório da Unaids é o maior número de casos de HIV entre homens jovens gays. "Como a gente sabe que na população gay [a transmissão] é maior, muito provavelmente quem sustenta esse crescimento é esse grupo."

A Unaids também aponta para o aumento da circulação do vírus entre jovens gays e cita falhas em políticas de prevenção em grupos de maior risco no país.

"Agora, é preciso que campanhas específicas voltem, principalmente para homens que fazem sexo com homens", diz Georgiana Braga-Orillard, diretora da Unaids Brasil. "O país passou por uma fadiga na prevenção."

Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

MAIS MORTES

O relatório também registrou alta de 7% no número de mortes pela Aids no Brasil. Também houve aumento no México (9%) e na Guatemala (95%). Em toda a América Latina, porém, o número de mortes caiu 31%.

O ministério, no entanto, aponta para uma diminuição. No último boletim, com dados coletados até junho de 2013, o governo indica redução de 14% na taxa de mortalidade nos últimos dez anos.

A discrepância entre os dados se explica porque a Unaids considera números absolutos, enquanto o ministério realiza os cálculos levando em conta o tamanho e o crescimento da população.

De qualquer modo, para a Unaids e o Ministério da Saúde, a situação é preocupante. "Não estamos confortáveis de maneira nenhuma. Por isso temos nos preocupado, principalmente de 2013 para cá, em responder melhor a essa situação", diz Barbosa.

A expectativa é de que os próximos dados reflitam as novas iniciativas. Em junho, o governo passou a oferecer a dose tripla combinada, que pode aumentar a adesão ao tratamento. Os pacientes também passaram a receber o medicamento no momento da infecção por HIV, independentemente da carga viral.

POSSÍVEIS CAMINHOS

Mudanças nesse quadro, segundo infectologistas, são possíveis com campanhas de prevenção para grupos específicos, diagnóstico e tratamento precoce. Hoje, porém, 150 mil pessoas no país não sabem que têm o vírus.

Para o infectologista Artur Timerman, do Hospital Edmundo Vasconcelos, faltam dados de como o vírus está circulando e o perfil exato dos infectados. "É preciso fazer a sorologia em uma amostra de indivíduos, registrar o número de infectados e separar por perfis", diz ele. "A Aids não está sob controle e o programa brasileiro não é essa maravilha de que se fala."

"No centro de São Paulo, o número de infectados é comparável ao da África subsaariana", diz Caio Rosenthal, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. "Essa população vive em guetos e não está se protegendo."


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