Folha de S. Paulo


Reinternação por insuficiência cardíaca é evitável em 40% dos casos

Quase 50% dos pacientes que são internados por insuficiência cardíaca no país voltam a ser hospitalizados em até seis meses após a alta. Em 40% dos casos, o retorno tem razões evitáveis, como interrupção do uso de remédios e dieta com excesso de sódio.

Essas são algumas das conclusões do primeiro registro brasileiro de insuficiência cardíaca, um estudo que investigou cerca de 1.200 pessoas internadas em 57 hospitais públicos e particulares em todas as regiões do país. O trabalho encontrou outro dado preocupante: a taxa de mortalidade desses pacientes dentro do hospital é de 12,8%, o triplo do índice encontrado em estudos norte-americanos e europeus.

Nos hospitais públicos, a taxa de mortes é o dobro da registrada nas instituições privadas. Por ano, o SUS (Sistema Único de Saúde) registra cerca de 300 mil internações e 23 mil mortes no país por insuficiência cardíaca.

Segundo Sabrina Bernardez, médica do Instituto de Ensino e Pesquisa HCor (Hospital do Coração) e coautora do estudo, falta educação aos médicos e aos pacientes.

O estudo mostrou, por exemplo, que só 35% dos médicos orientam os pacientes sobre os remédios. "Não basta entregar a prescrição. É comum vermos pacientes que não sabem ler ou interpretar o que está na receita."

Editoria de Arte/Folhapress

O levantamento, que será divulgado no Congresso Brasileiro de Insuficiência Cardíaca, em agosto, envolveu a análise de prontuários médicos e entrevistas de pacientes e profissionais da saúde.

A falta de acesso a medicamentos como betabloqueadores também apareceu entre as queixas dos pacientes da rede pública. "Eles são um dos principais recursos no tratamento da insuficiência cardíaca, mas não estão disponíveis em muitas regiões." Outro problema comum, diz Sabrina, é a pessoa esquecer de tomar seus remédios.

Segundo Denílson Albuquerque, coordenador do estudo, o excesso de sal é outro fator que leva à reinternação. "Às segundas-feiras, é comum ver pacientes descompensados por conta do churrasco no fim de semana", diz.

Ele alerta para o nível de capacitação dos profissionais responsáveis pelo primeiro atendimento ao paciente cardíaco. "Mais da metade das pessoas que recebemos com indicação para transplante precisa apenas reajustar a dosagem da medicação. Falta treinamento adequado", diz.

O comerciário Aílton Braga de Brito, 53, é um exemplo. Ele precisou percorrer a emergência de vários hospitais até receber tratamento adequado. "Aos 39 anos, quase morri. Tinha muita falta de ar à noite." Foram quase três anos para sair da fase mais grave. Hoje, ele continua com remédios e recebe acompanhamento a cada três meses.


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