Folha de S. Paulo


Mulheres esperam até dois anos para tratar endometriose

Ao menos mil mulheres estão em filas de espera em hospitais públicos aguardando tratamento para a endometriose, doença que afeta o endométrio (membrana interna do útero) e pode se espalhar para o intestino e ovários, causando dor e infertilidade.

O atraso para a chegada da terapia pode perdurar por dois anos na rede pública.

Só no Hospital das Clínicas de São Paulo, são 60 mulheres à espera de cirurgia, especialmente do intestino.

Os dados são da Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva, que está pedindo ao Ministério da Saúde a inclusão da endometriose na categoria de crônica e não transmissível, como a diabetes ou a hipertensão.

Para o ginecologista Rui Ferriani, professor da USP e presidente da associação, é necessário garantir mais meios de diagnóstico e tratamento para a doença que afeta 6 milhões de brasileiras em idade reprodutiva.

Segundo ele, um terço das mulheres com endometriose precisa ser operada para a remoção de focos do endométrio que se instalam no intestino ou na parede externa dos ovários, por exemplo.

"Quando a doença se manifesta com dor ou infertilidade, tem que investigar, operar. Mas quando é silenciosa e não causa sintoma, não oferece risco e não precisa de tratamento", afirma o médico Gustavo Gusso, professor de clínica geral da USP.

Para ele, a inclusão no rol de doenças crônicas seria um "equívoco" pois poderia levar a diagnósticos quem não tem sintomas da doença. Estima-se que em 11% das mulheres seja assintomática.

"Só uma mulher que sofre com a endometriose sabe o tamanho da dor que sente. A cólica é diferente de uma cólica menstrual", afirma Caroline Salazar, que tem endometriose e é autora do blog "A Endometriose e Eu".

Editoria de arte/Folhapress

DIAGNÓSTICO

Na opinião do ginecologista Maurício Abraão, professor da USP, coordenador do setor de endometriose do Hospital das Clínicas de São Paulo, há muitos casos da doença sem diagnóstico.

Segundo ele, muitas meninas manifestam sinais desde a primeira menstruação (cólicas incapacitantes, por exemplo), mas eles não são levados em conta. A endometriose afeta 6 milhões de mulheres brasileiras em idade reprodutiva.

"Antes dos 20 anos demoram em média 12 anos para tê-la detectada. Cólicas incapacitantes não são normais. É preciso investigar. A doença pode atingir outros órgãos, o que acaba dificultando o tratamento", explica.

Metade das mulheres com a doença tem dificuldades de gravidez, segundo Abraão. Pesquisa da associação de endometriose com patrocínio da Bayer mostrou que 53% de 10 mil mulheres entrevistadas nunca ouviram falar da doença. Das que a conheciam, apenas 24% sabiam os principais sintomas.


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