Folha de S. Paulo


'Quanto mais parceiros eu tenho, mais vazio me sinto', diz estudante

O estudante universitário J.S., 34, frequenta reuniões do Dasa (Dependentes de Amor e Sexo Anônimos) há oito meses. Leia o depoimento dele.

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"A compulsão sexual se desenvolveu em mim pela falta de autoestima. Aquela crença de que quanto mais mulher eu pegar, mais homem eu sou, quanto mais homem eu pegar, mais eu me sinto querido.

Comecei minha atividade sexual aos 13 anos, com um menino. Depois foi com mulher, uma prostituta.

Eu vivia no interior de Pernambuco. Tinha um vereador que morava na casa ao lado. Quando eu tinha 14 anos, ele começou a pedir que eu fosse dormir na casa dele sempre que a mulher dele ia para Recife. Eu, de família carente, entrei no jogo de sedução. Me tornei amante dele por cinco ou seis anos.

Aos 18 vim para São Paulo. Comecei a usar drogas. Se caio na cocaína, vou parar em quarto com travesti ou assistindo a filme pornográfico a noite inteira.

Fui morar em Buenos Aires e esse comportamento se intensificou. Lá eu tinha parceiro, mas me prostituía. Circulava à noite por Palermo e via gente transando embaixo das árvores, na frente de quatro, cinco pessoas. Um dia transei com um cara lá e chegaram três para assistir. Me excitei ainda mais.

Agora estou com um parceiro. Mas não quero ficar só com ele. Juro fidelidade e faço o contrário.

Ontem mesmo fui à subprefeitura, identifiquei de longe um gay e comecei a me insinuar. Botei a mão dentro da calça para atrair. Trocamos celular. Meu parceiro não sabe de nada.

Nunca precisei transar com três no mesmo dia. Mas quero mais do que a pessoa com quem estou pode oferecer: quero outros, outras. Tenho muita libido, acho isso doente já.

Estou cansado desse sofrimento. Quanto mais parceiros, mais vazio eu me sinto. Nesses dias, um amigo meu chegou e disse: 'Nossa, você é bonito'. Foi o suficiente para irmos ao motel, passarmos a noite toda lá e sairmos como se nada tivesse acontecido. Não quero mais isso."


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