Folha de S. Paulo


Monitoramento de idosos em SP melhora controle de doenças crônicas

Há cinco anos, a aposentada Elynor Evelyn Carli, 62, mal andava; as mãos estavam quase atrofiadas por sequelas da artrite reumatoide. Também vivia brigando com a hipertensão sem controle.

Hoje, Elynor dança, canta no coral da igreja, faz caminhadas e costura roupinhas para o neto que vai nascer.

Joel Silva/Folhapress
A aposentada Elynor Evelyn Carli, 62, de Campinas, que participou do programa de monitoramento
A aposentada Elynor Evelyn Carli, 62, de Campinas, que participa do programa de monitoramento

A aposentada faz parte de um contingente de 25 mil idosos no interior de São Paulo que participam de um programa do Hospital do Servidor Estadual (Iamspe) que monitora e dá assistência a idosos com doenças crônicas.

Por causa do serviço, Elynor passou a receber ligações de uma enfermeira para monitorar a hipertensão. Ela também tinha consultas médicas agendadas mensalmente para tratar a artrite.

Criado em 2005, o programa concluiu seu primeiro balanço com base nos prontuários: 75% dos idosos monitorados conseguiram manter a doença crônica controlada.

Há uma grande dificuldade para conseguir a adesão dos pacientes aos tratamentos. De 40% a 60% dos hipertensos não tomam os remédios corretamente.

Hipertensão sem controle pode causar derrames e insuficiência renal. Já o diabetes descompensado leva a amputações e cegueira.

Entre as orientações passadas pelos profissionais do programa estão dicas de uma alimentação balanceada, uso correto de medicações e avaliação dos pés dos diabéticos.

O serviço está em 18 cidades do interior de São Paulo e atende idosos hipertensos, diabéticos, com colesterol alto, doenças da tireoide e osteoporose.

"O objetivo é não perder o paciente de vista. Se ele não aparece na consulta, a gente vai atrás", conta a médica Neusa Nakao Sato, responsável pelo programa.

Segundo ela, alguns pacientes não gostam da marcação cerrada, mas acabam se fidelizando à iniciativa quando passam a ser os "gestores" da doença.

"No início, a doença crônica não dá sinais e isso dificulta a adesão ao tratamento, mas depois aparecem as complicações. Queremos evitar que isso aconteça."

O proposta agora é instalar o programa na capital paulista, com foco em doentes mais graves, como os que carregam sequelas de derrames. "A doença pode ser incurável, mas é possível prevenir os agravamentos dela."

PLANOS DE SAÚDE

Vários planos e seguradoras de saúde no Brasil têm oferecido serviços de monitoramento de pacientes crônicos, mas são raras as iniciativas no serviço público.

Estudos mostram que, além do controle mais efetivo das doenças, a iniciativa provoca uma redução de custos e da ida dos idosos aos prontos-socorros.

Segundo a geriatra Maria Lúcia Lebrão, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP, experiências internacionais demonstram que o desafio tem sido manter a adesão a longo prazo.

"Incluir atividades físicas, jogos de memória, leitura de jornais e outras atividades de interesse dos idosos a esse monitoramento aumenta a motivação e a adesão por mais tempo", afirma.


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