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Vendedora sai do Bolsa Família e sustenta família com R$ 3,5 mil ao mês

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Ana Carla da Conceição, 35, madrinha do projeto Kiteiras, da Danone, em Salvador (BA)
Ana Carla da Conceição, 35, madrinha do projeto Kiteiras, da Danone, em Salvador (BA)

Para conquistar uma renda para chamar de sua, a baiana Ana Carla da Conceição, 35, diz que é uma "vendedora arretada". Ela consegue R$ 3.500 por mês no projeto Kiteiras, da Danone, criado em 2011, em Salvador (BA).

A comerciante é uma das 900 participantes do programa que vendem produtos da marca de porta em porta.

A empresa opera nesse formato há mais de 25 anos e articulou uma parceria com a Aliança Empreendedora, que faz parte da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais, e com a Visão Mundial. O foco é impactar mulheres de comunidades, proporcionando uma fonte de renda complementar e profissionalização.

Após cinco anos no projeto, Ana Carla já reconhece os benefícios. "Comprei um apartamento, pago com esse dinheiro, consegui fazer uma reforma nele, comprei minhas coisas." Ela também planeja seu futuro e o de sua família. "Um grande sonho é pagar a faculdade de minha filha."

Leia seu depoimento à Folha.

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Sou casada e tenho três filhos, de 17, 15 e cinco anos. Estou no projeto vai fazer cinco anos. Conheci através de minha mãe. Ela levou um panfleto que pegou na estação de ônibus Pirajá para mim.

Eu liguei para a empresa, procurei saber como funcionava e marquei uma visita. Aí gostei e comecei a vender. Teve curso de formação da Aliança Empreendedora, por Skype. Na primeira semana, coloquei 38 kits a venda. Na segunda semana, coloquei 40 kits, na terceira, 70 kits.

Antes, eu vendia de tudo. Calcinha, sutiã, perfume, sapato. Nunca tive carteira assinada. Minha renda era venda e Bolsa Família, variava de R$ 500 a R$ 700.

Tem uma grande diferença vender cosmético, sapato, que as pessoas não compram toda semana, e iogurte, que é alimento, precisa todo dia.

No começo, foi complicado para meu marido aceitar. Ele não queria que eu trabalhasse. Como eu sou teimosa, não escuto muito. Antigamente, ele não via esse trabalho como renda da casa.

Ele ficou um ano desempregado e quem manteve a casa fui eu. Precisou ele passar por essa situação para enxergar que é uma renda principal.

DECOLAGEM

Quando entrei, surgiu uma oportunidade. O antigo distribuidor estava precisando de madrinhas. Para ser madrinha, precisava indicar sete vendedoras ativas e vender R$ 4.000 por mês durante três meses.

No início, levei pessoas do meu bairro. Indicava minha vizinha, minhas amigas perguntavam como fazia para vender. Todo dia eu levava uma lá.

No primeiro mês, vendi R$ 8.000, no segundo, R$ 20 mil, e, no terceiro, R$ 35 mil. Vesti a camisa da empresa, fiz meus panfletos e estou até hoje, firme e forte. Vendedora arretada que nem eu tira R$ 3.500, R$ 3.800.

Na quinta-feira, pego pedido de muita gente e trabalho de 8h até 24h, com uns intervalos. Na sexta-feira, fico de 8h até 15h.

Fui eu que coloquei isso de trabalhar até 24h porque, como atendo muita gente, se deixar para pegar o pedido na sexta, não teria como atender essas mulheres todas. Acho que tenho uns 400 clientes. Toda semana tem mais gente.

CONQUISTAS E SONHOS

Muita coisa melhorou depois que virei kiteira. Comprei um apartamento, pago com esse dinheiro, consegui fazer uma reforma nele, comprei minhas coisas. Quando olho para dentro da minha casa e vejo que meu dinheiro está sendo aplicado aqui, não tem coisa melhor. Fico muito feliz.

Minhas filhas estudam. Eu estudei até a 8ª série, mas não me troco por nenhum formado. Um grande sonho é pagar a faculdade de minha filha, de fisioterapia, e que meus filhos tenham tudo que eu não tive. E através dos kiteiras, estou buscando isso para que eu realize o sonho deles.


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