Folha de S. Paulo


Basta vontade para compostar e ter horta orgânica em casa, diz arquiteta

Para quem acha que fazer a compostagem dos resíduos orgânicos dentro de casa é algo complicado e demanda espaço, a arquiteta Renata Portenoy alerta: "Não é nada muito difícil, acho que tem a ver com aquilo que a gente acredita"

No apartamento de classe média, que divide com o marido e um casal de filhos, ela não só trata da destinação correta do lixo que a família produz, como também cultiva uma horta doméstica, em plena avenida Faria Lima, região nobre da capital paulista.

Na Lata
Renata Portenoy, mora em apartamento no Jardim Paulistano e tem composteira doméstica
Renata Portenoy, mora em apartamento no Jardim Paulistano e tem composteira doméstica

A arquiteta chegou a morar um tempo fora da metrópole, mas quando voltou continuou seu trabalho com hortas. Ela sentia, no entanto, que ainda faltava algo.

"Eu tinha todos os recursos que precisava para minha horta, mas ainda saía para comprar adubo e muitas vezes não encontrava um orgânico."

Encontrou a solução para o problema ao adquirir uma composteira doméstica da Morada da Floresta.

O negócio social foi fundado por Cláudio Spínola, expandindo o estilo de vida do empreendedor para outras famílias de São Paulo. Ele é um dos finalistas do Prêmio Empreendedor Social 2016 e concorre também na categoria Escolha do Leitor; vote.

"A Morada facilitava a nossa vida ao já entregar um produto pronto, os kits das caixas, que precisa de um lugar mínimo", diz a usuária urbana, que conseguiu assim reduzir a quase zero os resíduos orgânicos gerados em casa.

Para Renata, a horta e o minhocário caseiro são um retorno a um modo de viver mais sustentável, em plena cidade. "É resgatar valores que estão muito perdidos, do contato com o natural, de uma casa mais equilibrada, com menor geração de resíduos."

Leia seu depoimento à Folha.

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A compostagem doméstica entrou na minha vida no momento em que voltava para São Paulo, depois de ter ficado muitos anos fora.

Já dava aulas de horta, trabalhava com crianças, mas faltava alguma coisa. Descobri que era justamente a compostagem doméstica. Eu tinha todos os recursos de que precisava para minha horta, mas ainda saía para comprar adubo e muitas vezes não encontrava um orgânico.

Buscando essa tendência da minimização dos resíduos e, ao mesmo tempo, um recurso para adubar de forma natural, sem nenhum tipo de componente químico, comecei a ter a ideia de fazer compostagem em casa.

Aí apareceu a Morada da Floresta na minha vida. Fiz uma busca, conversei com alguns amigos que já faziam e encontrei um produto pronto, já que eles facilitavam a nossa vida ao já entregar os kits das caixas, que ocupam um lugar mínimo [na área de serviço].

Sempre digo que o problema [para não fazer compostagem em apartamento] não é falta de espaço, é falta de vontade. O kit ocupa pouco espaço e organiza a bagunça.

A questão do cheiro acontece quando se está manipulando de uma forma inadequada. Assim como tudo na natureza, se a gente faz a compostagem direito, ela funciona, não traz nem bicho nem maus odores.

Não é nada muito difícil, acho que tem a ver com aquilo que a gente acredita. Do lado da pia, tenho um pequeno lixo onde jogo tudo aquilo que é apropriado [para compostar]. Restos de frutas, legumes, verduras, cascas de ovos, borra de café, resto de chá, tudo isso a gente separa na pia.

A cada dois dias, vou até minha área de serviço e jogo tudo dentro da caixa de cima. Cubro com serragem ou com folhas, matérias orgânicas que pego numa pracinha aqui perto. Tampo a caixa e a vida continua.

No meu caso que moramos em quatro pessoas e realmente consumimos bastante frutas, verduras e legumes, demoro uns dois meses para encher uma caixa. Quando ela enche, passa a ser a caixa do meio.

Se a do meio já estava lotada de resíduos que tinha jogado antes, essa terra que ficou durante dois meses descansando embaixo está pronta. É o adubo que vai para a minha horta e também para as hortas que faço para minha mãe e amigos

Minha horta caseira tem rúcula, pimentinha dedo de moça, orégano, cebolinha, alecrim, manjericão e tomilho. Na sala, tenho tomate, cenoura e um pé de arruda, que nunca faz mal.

Acho demais ter uma horta em plena avenida Faria Lima. É um retorno natural no meio da cidade. É resgatar valores que estão muito perdidos, do contato com o natural, de uma casa mais equilibrada, com menor geração de resíduos.

É um desafio, mas, ao mesmo tempo, é uma coisa do ser humano. Todos deveriam fazer isso. É uma proposta que faz a gente se sentir mais responsável, mais em harmonia.

Quando digo que estou fazendo horta, as pessoas pensam que eu moro numa casa enorme. Digo: "Não, meu apartamento não é enorme".

Tento ser, de alguma forma, um espelho para algumas pessoas que querem fazer a compostagem e acham que é difícil. E não é.


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