Folha de S. Paulo


Parto humanizado está distante de famílias carentes, diz mãe da periferia

"A Valentina nasceu da forma que ela quis", conta Pamella Caroline Lopes, moradora da zona sul de São Paulo sobre o parto humanizado que realizou na Casa Ângela.

Pouco antes de engravidar, Pamella descobriu na internet o serviço gratuito, bancado pelo SUS e pela ONG, e decidiu que, quando tivesse um filho, iria dar à luz assim: "Um parto humanizado, natural, sem corte, sem ponto", define a jovem.

Na Lata
Pamella Caroline Lopes (à dir.) descobriu, pouco antes de engravidar, o que era parto humanizado e decidiu que na sua vez seria assim
Pamella Caroline Lopes (à dir.) deu à luz Valentina por meio de parto humanizado, 'sem corte, sem ponto'

Ao pesquisar na internet, Pamella percebeu que o procedimento não fazia parte de sua realidade. "Quando a gente fala de um parto humanizado, a primeira coisa que vem na cabeça de quem conhece é que só pessoas com poder aquisitivo maior conseguem", diz.

Até descobrir que perto de sua casa a Casa Ângela, que atende grávidas de baixa renda. Para ajudar em seu custeio, a instituição é uma das ONGs beneficiadas pelo Instituto Arredondar que, de centavo em centavo arredondado em compras no varejo, auxilia o financiamento de organizações do terceiro setor.

Nina Valentini é co-fundadora do instituto e finalista do Prêmio Empreendedor Social de Futuro. Ela concorre também na categoria Escolha do Leitor que está com votação aberta; participe.

A avó e o pai da criança estranharam a opção da mãe de primeira viagem, mas depois que conhecerem a instituição, se convenceram da ideia. Com o bebê recém-nascido, Pamella já pensa em como retribuir o carinho recebido durante o parto e acredita que o trabalho precisa ser mais divulgado.

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Antes de engravidar, li no Facebook um relato sobre um parto humanizado e achei lindo, fiquei emocionada. Não tinha previsão de quando ia ter um bebê, mas coloquei na cabeça que seria assim.

Em seguida, descobri que estava grávida e comecei a procurar na internet. Achei a Casa Ângela pertinho de casa. Nem imaginei que tivesse uma estrutura dessa com fácil acesso.

Quando contei para minha mãe e para meu namorado que queria o parto humanizado, eles acharam loucura. Falaram que era coisa de açougueiro e ia ter que ir para o hospital.

Mostrei vídeos, expliquei. Aí começaram a entender um pouco, mas só aceitaram mesmo quando a gente veio ver uma palestra na Casa Ângela. Eles saíram encantados.

Lógico que eu tinha medo da dor, de como ia ser. Cheguei achando que o parto ia demorar dois, três dias. Quando vi que foi acontecendo realmente de uma forma natural, que o meu corpo conseguia fazer tudo sozinho, foi maravilhoso.

Na hora, a dor é grande, não tem como fugir, mas quando soube que a hora estava se aproximando, foi um alívio.

O tempo inteiro tinham três pessoas me ajudando, fora minha mãe e meu namorado, que também ficaram na sala de parto comigo. Foi incrível. Era tudo realmente como eu queria.

No hospital, acontece da forma que os médicos querem. Muitos nem te conhecem. Você chega lá e é mais uma, não tem um atendimento. Aqui a gente faz um plano de parto, eles respeitam tudo como a gente pede.

A palavra é humanizado, com a minha família do lado. Se eles não estivessem comigo, acho que seria muito mais difícil. A criança nasce com o contato pele a pele, com o pai também ali do lado.

Meu parto foi totalmente humanizado, natural, sem corte, sem ponto. A Valentina nasceu da forma que ela quis.

DIVULGAÇÃO

Acho que falta um pouco de informação para que as pessoas conheçam a Casa Ângela. Quando a gente fala de um parto humanizado, a primeira coisa que vem na cabeça é que só pessoas com poder aquisitivo maior conseguem.

Não é a realidade de uma família de baixa renda um parto desse, com essa estrutura que a gente tem aqui. Não tem dinheiro que pague o carinho. Você se sente totalmente amparada, em casa.


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