Folha de S. Paulo


"É perfeitamente possível que uma nova forma de democracia direta nasça e seja institucionalizada aqui no Brasil"

As mídias sociais foram um dos principais meios usados para mobilizar milhares de brasileiros nos últimos meses. Mas, para o empreendedor social Marcus Vinicius Bancaglione, 37, "falta foco e espírito libertário".

Em busca de adequar a tecnologia dessas redes à nova demanda social por mudanças políticas, Vinicius e mais quatro amigos criaram o Governe-se, uma plataforma digital para ligar o cidadão diretamente com o poder público.

"O software será usado para conectar as pessoas. O importante é que elas compreendam que o poder emana da sociedade e a partir disso usem a ferramenta eletrônica para fazer alterações nas estruturas legais. Assim, não serão dominadas pelos governantes, mas passarão a orientá-los", diz Brancaglione.

O grupo faz parte da ReCivitas, uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) com foco em cidadania e autogestão. "Começamos a criar o Governe-se em 2012 e nos próximos três meses ele será construído colaborativamente, de forma que as pessoas vão determinar como ele funcionará", explica.

A plataforma foi lançada em quatro eixos principais: desobediência civil, arte, rede e rede social. A primeira parte diz respeito à posição política que o participante pode manifestar como indivíduo com base na não ação, como, por exemplo, não votar nas próximas eleições e não justificar a ausência.

Divulgação
O empreendedor social Marcus Vinicius Bancaglione
Marcus Vinicius, 37, do Governe-se

Na parte artística, o objetivo é criar um movimento estético que seja transversal às reivindicações. A rede é quando as pessoas se agrupam e começam a formar um movimento, e rede social é referente à própria ferramenta e suas funcionalidades.

"Os participantes podem lançar artigos e ainda preservar sua identidade. A ideia é tirar a estrutura das redes sociais para as ruas de forma organizada", diz Brancaglione.

Entre os pontos mais importantes da plataforma está o encaminhamento das demandas geradas para os órgãos públicos responsáveis.

"O Governe-se é afirmativo. Nós lançamos a demanda para as três estâncias e fazemos uma análise para saber se é necessário enviar o pedido ao Ministério Público, ou, por exemplo, se o governo não está cumprindo determinada lei", explica Brancaglione.

Para isso, o grupo conta com a ajuda do advogado Bruno Galvão, que está trabalhando na construção de um projeto de lei que envolve alterações na estrutura legal brasileira para permitir que a sociedade civil faça proposições sem ser barrada pelo Congresso.

"Os protestos são indicativos claros que há uma falha na comunicação. A revolução já aconteceu e é perfeitamente possível que uma nova forma de democracia direta nasça e seja institucionalizada aqui no Brasil", afirma o empreendedor.

"Nós não precisamos atacar uma estrutura para que ela caia. Se deixamos de apoiá-la, ela simplesmente perde a legitimidade. Por isso nossa proposta transcende a anarquia. Para nós o governo é uma coisa tão importante que todo mundo teria que ter direito ao seu."


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