Folha de S. Paulo


Escolas devem preparar alunos para demandas do futuro do trabalho

O relatório do McKinsey Global Institute "Tecnologias Disruptivas: Avanços que Irão Transformar a Vida, os Negócios e a Economia Global" aponta que apenas 31% dos empregadores no Brasil concordam que os novos profissionais estão preparados para o mercado de trabalho.

Quando comparamos esse dado ao fato de que, segundo levantamento do Institute for the Future, 85% das profissões que teremos em 2030 ainda nem existem, fica fácil deduzir que essa lacuna tende a ficar cada vez maior se não tomarmos medidas urgentes.

Com esse desafio nacional em mente, cheguei ao Fórum Econômico Mundial para América Latina para participar do painel "Preparando a Juventude para o Futuro do Trabalho", mediado por Brian Gallagher, presidente e diretor-executivo da United Way Worldwide USA, ao lado de Bettina Schaller, chefe de Relações Públicas do Grupo Adecco, e Freddy Vega, diretor-executivo da Platzi.

No fórum, o tema transversal foi a 4ª Revolução Industrial, em um momento no qual o mundo está interconectado, mas a organização geopolítica e os problemas globais não correspondem à forma como estamos organizados.

A minha colaboração foi levar o olhar da tecnologia e da inovação, dentro de um contexto educacional real e prático. Acredito que os resultados obtidos pela Geekie, empresa que nasceu com a missão de transformar a educação do país, possa colaborar com um debate tão relevante para o futuro do país.

Nos últimos seis anos, mais de 10 milhões de alunos de escolas públicas e privadas foram impactados positivamente pela Geekie.

Quando se pensa que a escola atua com o desafio de preparar o aluno para as competências do século 21, mas que ainda perpetua um modelo de trabalho baseado nas habilidades necessárias na época da Revolução Industrial do século 19, percebe-se que mais do que a proposta educacional, a Geekie representa, na prática, um modelo de trabalho com pensamento crítico, autonomia, protagonismo e visão de futuro.

No cerne do desafio de preparar os jovens para o mercado de trabalho do futuro está a necessidade de questionar o sistema educacional.

Esse sistema se propõe a desenvolver habilidades –basicamente, memorização e preparação para um exame vestibular– que nada têm a ver com as competências que o mercado de trabalho exige como criatividade, pensamento crítico, trabalho em equipe e comunicação.

Ou seja, o oposto do que o modelo tradicional executa ao manter o aluno sentado em uma carteira, em postura passiva, copiando textos e estudando sozinho para a prova.

O problema do acesso universal à uma educação de qualidade não é só social, mas também é uma questão de competitividade. Se o país não garantir que todas as pessoas que passam pelo sistema educacional tenham capacidade de desenvolver plenamente o próprio potencial, corremos o risco de deixar vários "Stephen Hawkings" pelo caminho.

Se o Brasil quiser ser um país competitivo, precisamos que todas as crianças tenham uma educação de qualidade. Nesse processo, devemos considerar a importância de usar a tecnologia para desenvolver competências para o futuro: criatividade, comunicação, empatia.

Temos que mudar no mínimo o ensino médio para aproximar essas duas pontas: para que o dia a dia desse aluno na escola seja conectado com o que ele vai ser demandado no mercado de trabalho.

O primeiro passo da Base Nacional Curricular Comum (BNCC) é direcionar o ensino para habilidades e competências, mas para que isso aconteça tem um longo caminho. E esse caminho tem muito a ver com levar inovação, tecnologia e empreendedorismo para dentro da sala de aula. Da parte da Geekie, estamos dedicados a essa trajetória de transformação da educação.

CLAUDIO SASSAKI, mestre em educação pela Unversidade Stanford, é cofundador da Geekie, venceu o Prêmio Empreendedor Social em 2014 e integra a Rede Folha de Empreendedores Socioambientais


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