Folha de S. Paulo


Racismo no Brasil e o extermínio da juventude negra

Sempre é dito que o Brasil se constitui como um país multirracial, mas o que percebemos, ao longo da historia, é o quanto é um país racista, mesmo tendo uma população diversa. É importante afirmar que esta é predominantemente negra e que foi o último país a acabar com o tráfico de pessoas escravizadas.

Segundo os livros de história, cerca de 4 a 5 milhões de humanos escravizados entraram no nosso país. Vivemos um dos momentos mais emblemáticos das contradições humanas no país. Temos a triste realidade na qual se verifica o crescimento de grupos preconceituosos, racistas, machistas, entre outros que vão contribuindo para o aumento da violência contra a juventude, sobretudo a negra e pobre.

A população negra corresponde à maioria (78,9%) dos 10% dos indivíduos com mais chances de serem vítimas de homicídios.

O Atlas da Violência 2017, lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revela que homens, jovens, negros e de baixa escolaridade são as principais vítimas de mortes violentas no país, porém vimos cada vez mais o aumento da violência contras as mulheres negras.

Atualmente, de cada cem pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. De acordo com informações do Atlas, os negros possuem chances 23,5% maiores de ser assassinados em relação a brasileiros de outras raças, já descontado o efeito da idade, escolaridade, do sexo, estado civil e bairro de residência.

A população negra carrega na sua história a herança e a dor de ser negra em um país racista que mais mata e encarcera a juventude, pois os jovens negros brasileiros são as maiores vitimas desse racismo tanto estrutural quanto institucional, que seleciona e exclui os direitos a uma vida em abundância.

Os jovens que são exterminados têm idade, cor e classe social, têm, acima de tudo, sonhos e esperanças que para os dados estatísticos apenas se tornaram números e nunca parte de uma reflexão para a transformação da realidade.

É importante, portanto, apontar alguns caminhos, pois através da educação, trabalho social e da garantia de direitos podemos transformar a sociedade em um âmbito mais justo e igualitário, principalmente para a população negra.

O novembro negro é mais uma ferramenta de reforçar a luta do povo negro e de entidades da sociedade civil que, ao longo de sua história, construíram uma identidade de combate ao racismo, esteja ele escancarado, difuso ou velado nas relações sociais e institucionais.

Novembro também é o mês em que reafirmamos o compromisso de construir uma sociedade mais justa e igualitária. Esse é o tempo em que devemos comemorar, pois temos a valorização de um líder negro em nossa história, Zumbi de Palmares.

Esperamos que, em breve, outros personagens históricos de origem africana sejam valorizados por nosso povo e nossa história. Estão sendo tomados passos importantes, pois nas escolas brasileiras já é obrigatória (lei 10.639/2013) a inclusão de disciplinas e conteúdos que abordam a história da África e a Cultura Afro-brasileira, mesmo que no atual contexto tivemos retrocessos quanto à obrigatoriedade dessa lei.

Pensando nesse contexto, a Visão Mundial, através do Monitoramento Jovem de Políticas Públicas (MJPOP), busca preparar adolescentes e jovens de comunidades brasileiras para liderar processos políticos.

Essa metodologia oferece capacitações que envolvem conceitos sobre a participação infantojuvenil, além da defesa dos direitos e também mostram o funcionamento do Estado e de como se configuram as políticas públicas.

Com isso, meninos e meninas são preparadas para identificar os problemas locais, propor soluções e incentivar a comunidade, os cidadãos e o Estado a cumprir seu papel na defesa dos direitos e bem-estar de todos.

O MJPOP foi certificado pela Fundação Banco do Brasil como Tecnologia Social. Com isso, temos resultados concretos de transformação social. Acreditamos que é possível que a comunidade seja protagonista dessa mudança. A população que sofre todos os dias com o racismo não deve se calar diante da realidade tão chocante e dolorosa.

TATIANE DOS ANJOS, é conselheira nacional de Juventude da ONG Visão Mundial


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