Folha de S. Paulo


Contador de histórias constrói o saber e preserva cultura brasileira

Na Lata
Crianças participam de ação da Associação Viva e Deixe Viver
Crianças participam de ação da Associação Viva e Deixe Viver

Defensora do profissionalismo na atuação voluntária desde 1997, a Associação Viva e Deixe Viver está festejando a aprovação do Projeto de Lei nº 7.232/2017, que regulamenta a profissão de contador de história.

De autoria da deputada Erika Kokay (PT-DF), tendo a deputada Jô Moraes (PCdoB-MG) como relatora, o projeto foi aprovado em 12 de julho, por unanimidade, na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público e segue agora para a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.

A Viva faz escola e reforça o propósito desta profissão, que é o de promover a construção do saber e a preservação das manifestações da cultura popular brasileira.

Em sua trajetória, já foi reconhecida e premiada pelo Plano Nacional do Livro e da Leitura, do Ministério da Cultura, o que comprova a importância dos 1.299 voluntários contadores de histórias e 167 fazedores de histórias, cidadãos que atuam na gestão da instituição em diversas áreas.

O projeto pedagógico da Viva, aprovado pelo Ministério da Cultura em 1999 e que já beneficiou mais de 9.000 brasileiros, está em sintonia com as exigências desta nova profissão, que na verdade não é tão nova assim, pois tem ajudado, desde sempre, a preservar a história da humanidade.

O projeto de lei destaca a fundamentação teórico-prática para o uso da literatura e das técnicas de contação de histórias como instrumentos didático-pedagógicos no processo de aprendizagem.

Caberá ao contador de histórias valorizar o "patrimônio cultural imaterial brasileiro; democratizar o acesso aos bens culturais imateriais; valorizar a diversidade cultural do povo brasileiro, contribuindo para a difusão das manifestações verbais, poéticas, literárias, musicais e outras modalidades de manifestações artísticas e culturais do povo brasileiro".

Em pesquisa ininterrupta, conduzida pelo Instituto Qualibest desde 2006, traçamos o Perfil do Voluntário Contador de Histórias, que oferece em média 10 horas mensais e permanece na instituição por 9 anos. Os dados levantados motivaram o cálculo da valoração da hora dedicada a produção de saúde, educação, cultura, leitura e atividades lúdicas.

Se a Viva tivesse que ressarcir seus voluntários pelas mais de 53 mil horas doadas em 2016, o valor seria equivalente a R$ 2.125.656,64.

Temos que lembrar que todo voluntário investe recursos financeiros para executar tal atividade, seja na realização de cursos de atualização ou despesas com estacionamento, transporte, aquisição de livros e brinquedos, desembolsando de seu salário R$ 2.008.723,91.

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Portanto, o capital humano e financeiro produzido e doado à Viva é equivalente a R$ 4.134.380,55. Estas conclusões foram baseadas na experiência da organização internacional Independent Sector, que atribui valor à hora voluntária nos Estados Unidos desde 1983.

A mesma pesquisa também evidencia a necessidade de minimizar a visão assistencialista que existe sobre o voluntariado no Brasil e promover a gestão profissional na atividade, fortalecendo o conceito de sustentabilidade.

Ao analisar os dados, o que mais impressiona é a qualidade da formação intelectual desta turma que se dedica a contar histórias para crianças e adolescentes hospitalizados.

Entre os voluntários da Viva, a média de idade é de 50 anos; 45% possuem formação universitária; 18% concluíram uma especialização ou MBA; e 12% têm mestrado ou doutorado. São mulheres em sua maioria (89%) e com formação na área de humanas (86%).

Os voluntários são uma extensão indispensável da força de trabalho. A Viva, incansável nesta luta, participou do conteúdo do marco legal do terceiro setor e festejou a resolução 1.409/12 do Conselho Federal de Contabilidade na aplicabilidade e transparência destes resultados no Balanço Fiscal da Instituição.

Atribuir um valor econômico ao voluntariado é uma forma de entidades sem fins lucrativos avaliarem de forma tangível os benefícios gerados por seus colaboradores.

Além dos resultados financeiros, a Viva possui o Diário Eletrônico do Contador de Histórias, ferramenta que computa a participação de seus voluntários, com indicadores que, entre outros dados, contextualizam a melhora no humor e na dor dos pacientes.

Por meio deste recurso, verificamos que estamos nos especializando no atendimento da primeira infância (0-6 anos), faixa que responde por 61% das mais de 90 mil crianças atendidas por ano pela entidade.

Os voluntários da Viva recebem formação baseada na fórmula dos três "C"s: consciência pela causa escolhida, humanização da saúde e da educação por meio das classes e brinquedotecas hospitalares; compromisso com a instituição e com os públicos impactados, ou seja, crianças e adolescentes, suas famílias e os profissionais da saúde envolvidos; e constância, pois só assim podemos ver a transformação social.

É um exercício de cidadania para que a atuação voluntária seja encarada com a mesma seriedade de uma atividade remunerada.

Como consequência direta de nossa atuação, estamos certos de nossa contribuição para formação de leitores, ao apresentar a estas crianças, adolescentes e suas famílias publicações de qualidade.

Em pesquisa realizada pela Fundação Itaú Cultural, em 2016, no Hospital Municipal Infantil Menino Jesus, na capital paulista, 73% dos pais contextualizam que, ao sair do hospital, pretendiam aumentar a quantidade de vezes que leem ou contam histórias para o filho; 98% revelaram acreditar que a "contação" de história é um caminho de aproximação com o filho; 100% afirmaram que contadores de história no hospital ajudam a melhorar o bem estar da criança ou adolescente; e para 99%, a atividade ajuda na recuperação da criança ou adolescente.

A principal justificativa para este levantamento é a comprovação, em números, de que a entidade a que esse voluntário pertence merece crédito por realizar um trabalho de qualidade.

Buscamos conscientizar pessoas físicas e jurídicas para fazer parte desta parceria, temos que mostrar que a decisão de apoiar a Viva será acertada porque nossos voluntários fazem diferença nos locais em que atuam e não apenas porque seu investimento será corretamente empregado.

Os dados e fatos tornam-se ainda mais relevantes porque a entidade, além de atuar na área da saúde, contribui também para promoção da cultura entre os sujeitos que produzem educação e saúde em nosso Brasil.

VALDIR CIMINO, publicitário, pioneiro ao fundar, em 1997, a Associação Viva e Deixe Viver, promovendo a educação e estimulando a leitura por meio de contadores de histórias regularmente capacitados, é integrante da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais


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