Folha de S. Paulo


Onde estão os grandes doadores brasileiros?

Para dar início a este artigo, gostaria de destacar alguns números. No Brasil, temos uma cultura de doação? Sim, como demonstrou a Pesquisa Doação Brasil, o primeiro estudo abrangente e de âmbito nacional sobre o perfil do doador brasileiro.

O levantamento, que foi coordenado pelo Idis (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social) e realizado pelo Instituto Gallup, mostrou que, em 2015, os brasileiros doaram R$ 13,7 bilhões para causas sociais, algo em torno de 0,23% do PIB (Produto Interno Bruto).

A cifra chama a atenção, especialmente se comparada aos dados de investimento social realizado por empresas, que contam com vários incentivos fiscais, mas doaram menos.

A mais ampla pesquisa sobre o investimento social corporativo, a Bisc (Benchmark do Investimento Social Corporativo), que cobre as 350 maiores empresas brasileiras, apurou que as doações para causas socioambientais, em 2015, somaram R$ 2,6 bilhões.

Conversando com uma das responsáveis pela Bisc, ela estimou que, se tentássemos projetar esse valor para todas as empresas brasileiras, provavelmente não passaria dos R$ 8 bilhões.

Isso quer dizer que, diferentemente do que muitas vezes pensamos, o pequeno doador individual é tão ou mais responsável do que as empresas pelo sustento do chamado terceiro setor.

E onde estão os grandes doadores brasileiros?

No mundo todo, cada vez mais vemos empresas e empresários se posicionarem a respeito de temas importantes para a nossa sociedade, temas que ultrapassam a responsabilidade social corporativa.

Empresas do Vale do Silício se colocam contra o governo e o enrijecimento das leis de imigração. Grandes nomes dos negócios e suas organizações filantrópicas assumem metas ambiciosas, como a Fundação Bill e Melinda Gates, que se propôs erradicar a poliomielite no mundo, e a Open Society Foundation, criada pelo megainvestidor George Soros, que apoia inciativas para o fortalecimento da democracia em diversos países.

Em um primeiro momento, pode parecer que a desigualdade e seus efeitos não impactam diretamente os negócios. Mas impactam, sim. A desigualdade afeta nossas vidas diariamente, todos sofremos com a falta de segurança, com a falta de mão de obra qualificada e ainda vamos sofrer com as consequências do aquecimento global.

Ter uma sociedade civil forte, com organizações vibrantes, é condição para garantirmos um ambiente sadio para os negócios. Pode parecer que cada um de nós não tem responsabilidade em relação a diversos temas socioambientais. Mas, quando esses temas não são devidamente cuidados, o ambiente pode se tornar inóspito para a condução de nossas vidas, e nossos negócios.

Temos exemplos próximos, como o da nossa vizinha, a Venezuela, e vários exemplos em países da África como Angola e seus 30 anos de guerra civil. Sem falar na China, que apesar de ser uma potência econômica, não oferece liberdade para o desenvolvimento de negócios sem a participação do Estado, o que dizer para discussões sobre direitos humanos.

Todos podemos contribuir, e podemos contribuir de várias formas. Não apenas com recursos financeiros, mas também com nosso capital intelectual, nossa rede de relacionamentos, e outros ativos para alavancar uma causa ou uma organização. Este é um caminho sem volta para quem começa, pois o prazer e o retorno pessoal são argumentos ainda maiores do que o retorno para a sociedade.

PAULA FABIANI é diretora-presidente do Idis (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social), parceiro do Prêmio Empreendedor Social


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