Folha de S. Paulo


Investimento em negócios de impacto cresce mesmo em meio à crise

A Yunus Negócios Sociais chegou ao Brasil há quatro anos com o objetivo de desenvolver negócios que resolvam problemas sociais e ambientais pelo país, seguindo os preceitos de Muhammad Yunus, economista, natural de Bangladesh, laureado Prêmio Nobel da Paz.

No Brasil, a Yunus tem duas formas de atuação. A primeira é por meio de sua área de aceleração e investimento em negócios sociais, desenvolvidos por empreendedores sociais. A segunda foca a prestação de serviços de consultoria a grandes empresas.

Todo o trabalho de construção do negócio social feito pela Yunus segue alguns princípios. Ele nasce para resolver um problema social, tem sustentabilidade financeira e seu lucro é 100% reinvestido. Outro critério importante para os negócios sociais é que sejam escaláveis, pois, ao expandirem, aumentam o desenvolvimento social a que se propõem.

Os impactos da crise financeira e econômica global tem mostrado que o capitalismo precisa de um complemento e, dessa forma, quando se diminui a concentração de capital, ele volta para a sociedade.

De olho nesse novo mercado, nos últimos dois anos, houve um grande aumento de negócios sociais pelo mundo, segundo dados da Ande (Aspen Network of Development Entrepreneurs), uma rede global que compreende mais de 250 organizações que incentivam o empreendedorismo em mercados emergentes, divulgados no relatório Panorama do Setor de Investimento de Impacto na América Latina, com foco no Brasil, Colômbia e México.

Segundo esse relatório, o número de investidores de impacto ativo, setor em forte expansão no país, entre 2014 e 2016, saltou de 22 para 29, e o total de recursos destinados a investimento em negócios sociais ou de impacto social foi de US$ 177 milhões para US$ 186 milhões, mesmo em um ambiente de recessão econômica.

Foram investidos US$ 68,9 milhões em 2014 e 2015 no Brasil, com ticket médio de US$ 1,5 milhão. Os principais setores que receberam esses recursos foram saúde (US$ 24,2 milhões), agricultura (US$ 31,4 milhões), educação (US$ 3,9 milhões) e inclusão financeira (US$ 3,6 milhões). A estimativa de investimento no país em 2016 era de US$ 105 milhões, e a expectativa de captação, US$ 269 milhões.

Em 2014, havia nove investidores sediados no Brasil e 13 internacionais. Em 2016, esses números aumentaram para 13 e 16, respectivamente.

A expectativa de retorno do investimento permanece relativamente alta no Brasil. Em 2014, 53% dos investidores declararam metas de retorno do investimento de 16% ou mais. Em 2016, 50% dos investidores tinham como meta um retorno anual líquido de 16% ou mais, em comparação com 37% na região como um todo.

Esse estudo também identificou 78 empresas que fizeram investimentos de impacto na América Latina entre 1997 e 2016: 28 investidores de impacto sediados na América Latina administram US$ 1,2 bilhão de ativos sob gestão; 31 firmas sediadas fora da América Latina, que já fizeram investimentos de impacto na região, administram um total de US$ 7,2 bilhões, considerando valores alocados tanto para a América Latina quanto para outras regiões.

Aproximadamente 80% dos participantes da pesquisa fizeram seu primeiro investimento depois de 2007, quando o termo "investimento de impacto" foi cunhado, com 14 a 15 novos entrantes a cada dois anos.

O crescimento dos investimentos de impacto tem sido impulsionado por aqueles que investem em negócios de impacto. Enquanto o número de investidores que fizeram investimentos em instituições de microcrédito e cooperativas agrícolas mais do que dobrou entre 2007 e 2015, o número daqueles com enfoque em negócios de impacto cresceu aproximadamente sete vezes no mesmo período.

A Yunus, atenta a esta tendência, trabalhou ao longo dos últimos anos na estruturação de um fundo de investimento cujo objetivo é alocar recursos nos negócios sociais apoiados por ela, completando, assim, o seu arco de atuação, que vai desde o apoio não financeiro aos empreendedores, até o investimento e acompanhamento pós investimento. A Yunus estima que em pouco o tempo o fundo estará captado e em plena operação.

Famílias de alta renda e investidores institucionais têm demonstrado interesse no fundo por se tratar de uma opção para a otimização dos investimentos tradicionais em filantropia.

LUCIANO GURGEL, economista com 17 anos de experiência no mercado financeiro, é gestor da Yunus Negócios Sociais Brasil, parceira do Prêmio Empreendedor Social


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