Folha de S. Paulo


Os valores do seu dinheiro

A vida como ela é: o dinheiro é o fio condutor de nosso cotidiano. Claro que o amor ou a família são mais importantes, mas, nos dias de hoje, o amor é empacotado em presentes em "datas comemorativas", e a família é um conjunto de contas de aluguel, escola, celular, cartão de crédito.

Passamos tanto tempo "correndo atrás do dinheiro", que sobra pouco tempo para pensar no valor que ele tem, ou melhor, que cada um de nós dá a ele.

Você trabalha e, em troca de sua capacidade e esforço, recebe dinheiro. Nessa troca, você pode não perceber, mas o dinheiro vem carimbado com os valores da empresa. É a contrapartida por uma ajuda para a empresa cumprir sua missão.

Você já parou para se perguntar se essa missão faz do mundo um lugar melhor? Se é algo que você fica orgulhoso, ou ao menos contente, em disseminar?

Você compra e, em cada compra, usa o seu dinheiro para dar um voto de confiança para um produto ou serviço. Mais do que isso, você sinaliza que aquele produto é bom e que devemos ter mais dele no mundo. Aquele produto reflete uma série de valores com os quais sua matéria prima foi utilizada, os trabalhadores que o produziram, como foi embalado, distribuído e vendido.

O seu dinheiro carrega os valores daquele produto. Estes valores são iguais, ou ao menos compatíveis, com os seus?

Você doa e vai dizer: "Aqui, sim, vivo meus valores: só doo para causas nas quais acredito!" Pois bem, os valores não estão relacionados somente na causa, mas também na abordagem e efetividade da organização apoiada.

Qual fração de sua doação vai para remediar situações urgentes? Qual fração para construir capacidades para enfrentar essas situações? Indo ainda mais longe: qual fração vai para construir infraestrutura para que o ecossistema das organizações que enfrentam aquela causa seja mais efetivo?

Ao fim desse processo, você poupa ou investe. Já se perguntou o que o banco faz com o dinheiro que você deposita lá? Que empresas e projetos ele financia? Aquele fundo de investimento com rentabilidade ótima, no que ele investe?

Se não temos respostas a essas perguntas, como saber se os valores que nosso dinheiro está impulsionando são parecidos com os nossos? Não é só uma questão de risco-retorno, e sim uma questão de risco-retorno-valores.

A não ser que esteja debaixo do colchão, o dinheiro, como a energia, está sempre fluindo e energizando alguma "coisa". Gaste um pouco de tempo (ou dinheiro) para certificar-se que essa "coisa" representa seus valores e ajuda a construir o mundo que você quer viver.

LEONARDO LETELIER é fundador e presidente da Sitawi Finanças do Bem, parceira do Prêmio Empreendedor Social


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