Folha de S. Paulo


A democratização do investimento de impacto social

Até recentemente, o investimento de impacto era uma oportunidade para poucos. Gostássemos disso ou não, as características específicas dos mercados de capitais faziam com que apenas grandes investidores e/ou filantropos tivessem a capacidade de acessar esse tipo de aplicação de recursos.

De fato, apenas detentores de grandes fortunas têm podido aportar recursos nos chamados fundos de impact investing. Esta modalidade de aplicação busca retornos moderados no longo prazo e se propõe a alocar recursos em negócios com impacto social positivo em áreas como saúde, habitação e educação.

Este setor tem crescido fortemente nos últimos anos, sendo que em 2015 já existiam US$ 77 bilhões administrados por fundos de venture capital dedicados ao tema, segundo a Giin (Global Impact Investing Network).

Como negócios de impacto costumam ter maior risco, indivíduos de alta renda teriam melhores condições de investir nesta classe de ativos por geralmente serem mais informados e conectados.

Por controlarem grandes volumes de recursos, também estariam em condições de produzir impacto arriscando apenas uma pequena porção de seu portfólio. No jargão do campo, estes são os chamados investidores profissionais ou qualificados.

Mas quem disse que um pequeno investidor não pode assumir o mesmo racional? Em um momento de grande volatilidade como o que vivemos, muitos consideram trocar resultados instáveis do curto prazo para ganhos mais sustentáveis no longo prazo.

Além disso, o atual portfólio de investimento disponível para o pequeno investidor não contempla aqueles que querem combinar resultado financeiro com impacto social.

Recentemente, uma forma distribuída de mobilização de capital tem chamado a atenção, democratizando o acesso a oportunidades de investimento: são os investimentos coletivos por meio de crowdfunding.

Desde 2010, quando esse novo setor teve início, o valor transacionado saltou de U$ 800 milhões para U$ 34 bilhões em 2015, com uma tendência de crescimento que indicava que o volume mobilizado poderia superar o do setor de fundos de capital de risco no futuro próximo.

E ao direcionar capital para apoiar negócios e projetos em estágios incipientes, esse setor tem o potencial de fechar uma imensa lacuna no acesso a capital por parte de empresas nascentes.

Nesse sentido, o chamado equity crowdfunding parece ser a oportunidade perfeita para que investidores de todos os portes apoiem projetos que se propõem simultaneamente a gerar impacto social e rentabilizar investimentos.

Captações recentes –como os R$ 750 mil acessados pelo Programa Vivenda na plataforma Broota, sob a liderança da Din4mo– evidenciam que já existem muitas pessoas interessadas no Brasil em apoiar projetos relevantes do ponto de vista social e com potencial de retorno econômico.

Com investimentos a partir de R$ 2.500, as pessoas que aderiram a essa tese sabem que se trata de um negócio de risco, cujo crescimento estará sujeito às intempéries tão comuns no ambiente brasileiro de startups.

Ainda assim, acreditam no projeto e em sua importância para milhares de pessoas de baixa renda, que terão mais saúde, qualidade de vida e dignidade por meio da reforma de suas moradias.

Adicionalmente, nessa modalidade é possível contar com a presença do líder da captação, que tem um papel fundamental ao reduzir a assimetria de informação entre investidores e empreendedores.

Entre as responsabilidades do líder estão a elaboração do deck de captação, a mobilização de investidores, o acompanhamento do processo de captação e a facilitação da relação entre investidores e a startups, provendo periodicamente relatórios de resultados.

Exercendo esse papel, a Din4mo Ventures mobilizou R$ 2 milhões nos últimos 18 meses em três rodadas de captação envolvendo 216 investidores.

Ao entrevistar uma amostra deles, percebemos dois perfis distintos. Um primeiro grupo é composto por pessoas com grande foco no impacto social e que doariam recursos para essa causa independentemente do retorno, enquanto o segundo grupo é formado por investidores que se preocupam tanto com o retorno econômico como com a causa social.

Já as organizações filantrópicas que apoiaram esta proposta específica entenderam ser uma forma interessante de multiplicar os recursos aportados em projetos alinhados com suas propostas.

É possível dizer que estamos inaugurando uma nova fase no campo de empreendedorismo e investimento de impacto. No entanto, como ocorre com qualquer campo em construção, é preciso atenção.

Com o avanço dessa modalidade de investimento, muitos projetos sem impacto buscarão recursos utilizando este argumento. Outros, que nunca darão retorno, tentarão vender a lua. Pensando nisso, é essencial a reflexão em torno da qualidade dos projetos e de seu impacto social. Com seriedade e informações adequadas, pode valer a pena arriscar.

MARCO GORINI, economista e MBA, HAROLDO TORRES, economista e doutorado em ciências sociais, e MARCEL FUKAYAMA, administrador de empresas, MBA e mestrado em administração pública, são cofundadores da Din4mo


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