Folha de S. Paulo


Eleições, uma oportunidade para promover a cultura da doação

Você já deve saber que, neste ano, os candidatos a prefeito e a vereador só poderão receber doações de indivíduos. Imagine então, que de uma hora para outra, R$ 4 em cada R$ 5 doados nas últimas eleições vão desaparecer.

É uma ameaça? Para os candidatos pode ser, mas para nós é uma grande oportunidade de promover a cultura de doação.

Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em 2014, cerca de 20% de tudo o que foi oficialmente doado nas campanhas eleitorais teve origem nos indivíduos. O resto veio das empresas e dos partidos.

Agora isso acabou. De uma hora para outra, bilhões de reais de potenciais doações vão desaparecer. Os candidatos e seus partidos serão obrigados a buscar incansavelmente os indivíduos, que poderão doar até 10% do seu rendimento declarado em 2015.

Em 2014, apenas 152.800 brasileiros doaram para as campanhas eleitorais, o que representou só 0,107% do total de potenciais doadores (apesar de, no volume, representarem os 20% supra citados).

Sem contar que 40% desses 152 mil foram os próprios candidatos que doaram. Ou seja: o brasileiro não doa para campanhas políticas!

Essa situação vai sem dúvida dar mais trabalho aos candidatos e suas equipes, Além do voto dos milhões de brasileiros, vão ter que ir atrás também do dinheiro deles.

O que para os políticos provavelmente está sendo visto como uma ameaça, nós captadores entendemos como uma excelente oportunidade.

Oportunidade de promover ainda mais a cultura da doação, fazendo com que os brasileiros se aproximem dos seus candidatos preferidos não apenas pelo coração, mas também pelo bolso.

Não será surpresa se passarmos a ver, como assistimos nas séries de TV americanas, inúmeros jantares de captação de recursos dos candidatos, que terão mais contato principalmente com a classe média, onde está o grosso do dinheiro em escala.

Também veremos grandes mobilizações online de captação de recursos para as campanhas, mostrando com mais detalhes quais são as propostas e aproximando o candidato do eleitor –e do indivíduo financiador. Eu mesmo doei R$ 100 pela internet na campanha de 2010. Fui a exceção, agora serei a regra.

As técnicas de captação, diga-se de passagem, são muito parecidas com as da captação para organizações da sociedade civil. Mudam, claro, a mensagem e a causa.

Quando a doação de indivíduos é estimulada, seja pelos políticos, seja pelas igrejas e, principalmente, seja pelas organizações da sociedade civil, cria-se um ambiente para o desenvolvimento da cultura de doação.

E, por cultura de doação, entendemos o momento em que doar será um hábito comum ao brasileiro, que o fará de forma permanente, sendo estimulado para isso dentro das suas famílias, nas escolas, no seu emprego e até nas campanhas políticas.

E com o indivíduo entendendo que é responsabilidade dele o financiamento –e a legitimidade– das organizações da sociedade civil, e não do Estado ou das empresas.

Este ano, portanto, será diferente. Se as campanhas eleitorais darão certo, se os brasileiros aceitarão doar para os candidatos, ainda não sabemos. Se é para o bem do país, esperamos então que funcione.

JOÃO PAULO VERGUEIRO é diretor executivo da ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos), parceira do Prêmio Empreendedor Social, e professor de Responsabilidade Social Corporativa da FECAP


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