Folha de S. Paulo


Porque o Fuleco anda tão sumido

Muita gente tem se perguntado porque o Fuleco anda tão sumido dos estádios. Por que ele nem deu as caras na cerimônia de abertura da Copa 2014? Parece estranho que o mascote do evento não tenha feito sua aparição no momento de gala do futebol mundial.

Só quem pode responder sobre o sumiço do Fuleco é a própria Fifa. Mas talvez nós, da Associação Caatinga, tenhamos pistas sobre a repentina timidez do mascote.

JAVIER SORIANO/AFP
Fuleco é o mascote oficial da Copa do Mundo
Fuleco é o mascote oficial da Copa do Mundo

Em janeiro de 2012, a Associação Caatinga lançou a campanha viral "Tatu-bola para mascote da Copa 2014". A repercussão foi tão grande, para a nossa surpresa, que decidimos formalizar essa ideia e à época e enviamos um dossiê com a candidatura do animal à Fifa, ao Comitê Organizador Local e ao Ministério do Esporte.

Quando, em setembro daquele ano, saiu o anúncio oficial da Fifa de que o mascote da Copa seria um tatu-bola, ficamos muito satisfeitos, pois tratava-se do primeiro grande gol da Copa, mais de um ano antes do apito inicial. Na ocasião, o secretário-geral da entidade disse que a escolha do tatu-bola tinha sido feita para que a sociedade conhecesse melhor esse animal ameaçado de extinção e que essa divulgação poderia ajudar nos esforços de preservação da espécie.

Infelizmente, no período entre o anúncio do mascote e o início da Copa, a situação só tem se agravado. O fato de ter sido escolhido para ser o mascote não foi suficiente para reduzir o risco de extinção do tatu-bola. Perdeu-se também a oportunidade de fazer do Fuleco um mensageiro das questões ambientais em volta do tatu-bola e desta forma perdeu-se uma grande plataforma de mobilização global que é o futebol.

No dia 09 de junho, quatro dias antes do início da Copa, a Fifa ofereceu uma doação de R$ 300 mil ao Projeto Tatu-Bola da Associação Caatinga. A proposta não foi aceita, pois o valor não teria impacto importante nem relevante para ajudar a salvar o tatu-bola da extinção.

Edson Silva/Folhapress
O tatu-bola está ameaçado de extinção e é representando pelo Fuleco como mascote oficial do Mundial
O tatu-bola está ameaçado de extinção e é representado pelo Fuleco, mascote oficial do Mundial

Consideramos que seria justo que a FIFA contribuísse com 15% do custo total do projeto em dez anos, um valor total de US$ 1,4 milhão, ou 0,05% do lucro que a entidade deve ter com a Copa 2014.

Aguardamos uma nova proposta e esperamos que, até o apito final a Copa, o evento possa fazer a diferença para o tatu-bola. Seria a primeira Copa do Mundo com esse legado ambiental e que poderia ser lembrada como a Copa que fez toda a diferença para salvar o mascote da extinção.

Tanto quanto o tatu-bola, nós também precisamos das florestas preservadas, pois sem elas não teremos no futuro água potável para abastecer as cidades nem conseguiremos enfrentar o aquecimento global. Se o tatu-bola deu vida ao Fuleco e a exploração da imagem do Fuleco está ajudando a FIFA a incrementar o lucro da maior Copa de todos os tempos, nada mais justo que a Copa destinar uma pequena parte dos seus ganhos para a proteção dessa espécie ameaçada.

Fuleco deve estar envergonhado por não ter ajudado a sua espécie e não ter feito nada até agora para mudar o seu próprio destino. Talvez seja esse o motivo do seu sumiço.

Rodrigo Castro é secretário-executivo da Associação Caatinga e foi finalista do Prêmio Empreendedor Social em 2009


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