Folha de S. Paulo


Editora lucra com mercado em baixa doando R$ 22 milhões para ONGs

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Os cinco sócios da editora Mol
Dilson Branco, Claudia Inoue, Rodrigo Pipponzi, Artur Louback, Roberta Faria (da esq. para a dir.)

A crise do mercado editorial não chegou ao escritório da Mol, no Alto de Pinheiros, em São Paulo. A editora completou dez anos em 2017 com um modelo de negócio inovador e de impacto social: vende livros e revistas que custam cerca de R$ 5, doa grande parte do que ganha para ONGs e ainda lucra e cresce.

É uma lógica simples. A editora cria, por exemplo, um livro com fotos e lições que os cachorros podem ensinar aos humanos. Usa as lojas e os funcionários de uma rede de pet shop para impulsionar as vendas. Por fim, a renda vai apoiar uma organização que cuida de animais abandonados e cobrir os custos de produção, os impostos e garantir o lucro da Mol.

Assim, grandes redes varejistas passam a ter um projeto de responsabilidade social sem desembolsar nenhum centavo. O total de vendas em uma década –já foram comercializados 10 milhões de exemplares– resultou em um montante doado de R$ 22 milhões.

"É uma relação ganha-ganha: ganha a editora, que consegue viabilizar projetos que sonha fazer, ganha a empresa, por agregar valor social à marca, ganha o cliente, por ter acesso a um conteúdo de qualidade doando parte do que paga, e ganha a ONG, que recebe doações vultosas", explica a jornalista Roberta Faria, uma das fundadoras da editora.

Ela e os outros quatro sócios deixaram o mercado corporativo para apostar num negócio "socioeditorial", que se mostrou uma aposta certeira. A Mol cresceu este ano 28% em faturamento em relação à 2016.

As revistas bimestrais "Sorria", vendida na rede de farmácias Raia, e a "Todos", à venda na Drogasil, carros-chefe da editora, são consideradas as duas maiores do país no ranking de venda avulsa –com 236 mil exemplares e 148 mil exemplares, respectivamente.

Elas já contaram cerca de 2.000 histórias de pessoas anônimas e 98% das tiragens têm publicações esgotadas, segundo a editora.

O dinheiro arrecado com as microdoações da Raia, por exemplo, viabilizou o repasse de R$ 12 milhões ao Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer). Esse valor permitiu a construção de um novo prédio no hospital, aumentando em 30% a sua capacidade de atendimento.

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produtos da editora Mol
As revistas "Sorria" e "Todos", vendidas em farmácias, são os carros-chefe da editora paulistana Mol

E nem mesmo a queda de receita publicitária bate à porta da editora. Suas páginas não têm espaço para propaganda, nem para celebridades, dietas milagrosas, pregação religiosa ou partidária.

No lugar de conteúdos tradicionais, a rede de supermercados St Marche vende o livro "O Que Tem Para Jantar?", com receitas que usam produtos disponíveis nas lojas. A doação vai para organizações como a Gastromotiva, da Rede Folha de Empreendedores, que oferece cursos gratuitos de gastronomia para jovens de baixa renda, ou para o Banco de Alimentos, que combate o desperdício.

Lojas de brinquedo, como a Ri Happy e a PBKids, recebem almanaques infantis, que se transformam em outros milhões doados a instituições como a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) e a Turma do Bem, de dentistas voluntários, também da Rede Folha.

Para Roberta, ideias que têm propósito vendem. "Nós trabalhamos com paixão, investimos energia em algo que, de fato, acreditamos que pode fazer diferença na vida das pessoas."


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