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Valdeci Ferreira, da Fbac, é premiado por franquia de prisão humanizada

Keiny Andrade/Folhapress
Valdeci Ferreira, da Fbac, é premiado com franquia de prisão humanizada.Voluntário há mais de 30 anos, Valdeci Ferreira, 55, venceu a 13ª edição do Prêmio Empreendedor Social, na noite desta segunda-feira (6), em cerimônia no Teatro Porto Seguro, em São Paulo.
Voluntário há mais de 30 anos, Valdeci Ferreira, da Fbac, é premiado com franquia de prisão humanizada

Voluntário há mais de 30 anos, Valdeci Ferreira, 55, venceu a 13ª edição do Prêmio Empreendedor Social, na noite desta segunda-feira (6), em cerimônia no Teatro Porto Seguro, em São Paulo.

Ele lidera a Fbac, federação que congrega as Apacs (Associações de Proteção e Assistência aos Condenados). Sua missão é disseminar metodologia inovadora de ressocialização de prisioneiros, que se propõe a recuperar o preso, proteger a sociedade, socorrer as vítimas e promover a justiça restaurativa.

Ao receber o troféu, o empreendedor disse que jamais imaginaria há 34 anos, quando visitou pela primeira vez uma cadeia, em Itaúna (MG), ter a honra de receber o prêmio principal da noite.

"A vida não colocou tapetes para eu pisar, ela colocou degraus e hoje é mais um degrau que estamos subindo", disse, emocionado. "Preciso dividir esse momento com todos os recuperandos que passaram pela Apac e os que continuam lá e são a razão de ser da nossa obra e da renúncia que fiz na minha vida."

Um deles subiu ao palco, mesmo na cadeira de rodas. "Aqui, na frente de vocês, está alguém que passou pela Apac. Sou um ex-recuperando e eu acreditei nesse homem", disse Rinaldo Guimarães.

"Valdeci sempre fala uma frase de Santo Agostinho. A esperança tem duas filhas: a indignação e a coragem. A indignação para não aceitar as coisas como elas estão e a coragem para, como esse homem aqui, mudar e fazer a diferença", completou.

Como reconhecimento de seu trabalho, Ferreira foi escolhido como Empreendedor Social do Ano entre 160 inscritos no maior concurso da área na América Latina, realizado pela Folha, em parceria com a Fundação Schwab.

Estima-se que já passaram pelas Apacs, unidades prisionais humanizadas, sem armas nem guardas armados, mais de 33 mil condenados pela justiça brasileira. O sistema alternativo hoje abriga 3.500 presos espalhados em 48 unidades pelo Brasil. O método também está sendo aplicado em 19 países.

A entidade desenvolveu, em 1972, uma metodologia de 12 elementos, como trabalho, valorização humana, assistência jurídica, família, mérito e o princípio de recuperando ajudando recuperando.

Método este que resulta em 20% a 28% de reincidência –contra 85% no sistema prisional comum– ao custo de um terço do preço.

Ferreira disputou a categoria principal com Bernardo Bonjean, 40, líder da Avante, fintech que oferece crédito e serviços humanizados para microempreendedores não atendidos pelos bancos, e Ronaldo Lemos, 41, do ITS (Instituto de Tencologia e Sociedade), que desenvolveu o aplicativo 'Mudamos', ferramenta de democracia direta para coleta de assinaturas digitais para projetos de lei de autoria popular.

PROJEÇÃO

Após ser chancelado pelo prêmio, Ferreira passa a fazer parte da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais. O título de Empreendedor Social do Ano possibilita ainda o acesso à Rede Schwab para o Empreendedorismo Social, após o finalista ser avaliado pela fundação.

"Esses empreendedores se recusam a aceitar a desigualdade e sabem que problemas sistêmicos devem ser resolvidos não por caridade, mas sim por oportunidade", disse Marisol Argueta, representando a entidade.

Ferreira foi eleito por um júri de oito especialistas de diferentes áreas. Participaram da avaliação Hilde Schwab, presidente do conselho da Fundação Schwab; Maria Cristina Frias, colunista de "Mercado" na Folha; Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação de Dilma Rousseff e professor na USP; e Ronaldo Iabrudi, diretor-presidente do Grupo Pão de Açúcar.

Também participaram da avaliação Regina Esteves, diretora-presidente da Comunitas, organização que estimula o investimento social corporativo; Marilene Ramos, diretora para as áreas de Energia, Gestão Pública, Socioambiental, Saneamento e Transporte do BNDES; Sergio Andrade, vencedor do Prêmio Empreendedor Social 2015, e João Carlos Martins, pianista e maestro.

"Os últimos três anos foram de recessão, e, se tem sido difícil levar à diante empresas no país, o que dizer da tarefa de empreendedor sociais?", afirmou, no evento, Maria Cristina Frias.

"Num período de redução de recursos ao mesmo tempo se multiplicavam projetos com metas de impacto social. É com alegria que vemos a perseverança dos membros da Rede Folha", disse ela.

VENCEDORES

Também foram anunciados na noite desta segunda os ganhadores do Prêmio Empreendedor Social de Futuro e da Escolha do Leitor.

Na categoria destinada para líderes com até 35 anos à frente de iniciativas em desenvolvimento, Ralf Toenjes, 26, ganhou o prêmio jovem ao levar atendimento oftalmológico e óculos de baixo custo aos rincões do país.

Já Hamilton da Silva, 29, que também concorreu na categoria de futuro, conquistou o carinho do público com 56% dos 391.921 votos e venceu a Escolha do Leitor, que teve enquete no ar durante 32 dias e se encerrou na sexta-feira (3).

O terceiro finalista do Prêmio Empreendedor Social de Futuro foi o Mapa Educação, movimento liderado por Lígia Stocche, 27, Renan Ferreirinha, 23, e Tábata Amaral, 23, que reúne jovens como protagonistas no pleito de uma educação melhor.

O Prêmio Empreendedor Social tem patrocínio de Coca-Cola, IEL, uma iniciativa da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e Fundação Banco do Brasil. Conta com a Latam como transportadora oficial e o apoio do Instituto C&A e do Teatro Porto Seguro. ESPM, Fundação Dom Cabral, Insper e UOL são parceiros estratégicos.

Leia nesta terça (7), na Folha, o caderno especial sobre os finalistas da edição deste ano.

Colaborou THAIZA PAULUZE de São Paulo


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