Folha de S. Paulo


Concorrentes do setor de bebidas unem programas de reciclagem

Duas grandes empresas concorrentes no setor de bebidas anunciaram nesta quarta-feira (4) uma parceria para unificar seus respectivos programas de reciclagem, com o objetivo de potencializar e profissionalizar a coleta e o reaproveitamento de embalagens.

No programa chamado Reciclar pelo Brasil, a Coca-Cola Brasil, que apoia o Prêmio Empreendedor Social, e a Ambev se uniram à Ancat (Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis).

"Conseguimos fazer a proeza de juntar essas duas empresas", disse Roberto Laureano, catador de materiais e presidente da associação. "É um movimento muito importante de as cooperativas se profissionalizarem."

Marlene Bergamo/Folhapress
Garrafas PET para reciclagem no galpão da cooperativa Viva Bem, na zona oeste de SP
Garrafas PET para reciclagem no galpão da cooperativa Viva Bem, na zona oeste de SP

Num primeiro momento, 110 organizações de catadores serão beneficiárias do programa, que deve aumentar em até 25% os investimentos. "Com a unificação, vamos precisar investir menos na gestão, resultando em mais recursos para o impacto [nas cooperativas]", explicou o vice-presidente da Coca-Cola Brasil, Pedro Rios.

ESCOLHA DO LEITOR

A multinacional, por meio de seu instituto, investe na profissionalização dessas organizações no Coletivo Reciclagem. Já as cervejarias da Ambev, por exemplo, reaproveitam 99% de seus subprodutos, o que colaborou para a economia de 1,56 milhão de toneladas de resíduos em 2015.

"Temos expertises próprios. Trabalhamos junto com a Ancat para maximizar a inteligência das duas companhias", afirmou Rios. "Fazer juntos nos torna mais eficazes, unificando programas bons para transformar em algo muito melhor."

As empresas não informaram quanto vão investir, mas para o vice-presidente de Relações Corporativas e Jurídico da Ambev, Pedro Mariani, direcionar recursos para reciclagem não é visto como custo dentro da companhia.

"É responsabilidade nossa cuidar de nossas embalagens. Isso não é colocado na ponta do lápis. É algo essencial para uma empresa que opera no mundo de hoje."

ACORDO

A iniciativa das duas empresas vai ao encontro da meta do Acordo Setorial de Embalagens para reduzir, no mínimo, 22% das embalagens destinadas a aterros sanitários até 2018.

O acordo chega ao fim de seu primeiro ciclo e deve ser renovado em novembro. O Cempre (Compromisso Empresarial para Reciclagem), fundado após a Rio-92 por sete empresas, entre elas Coca-Cola Brasil e Ambev, está consolidando os resultados desses primeiros dois anos para que os termos do novo acordo possam ser discutidos.

Para o diretor do compromisso, André Vilhena, nesse novo ciclo é preciso que o governo faça cumprir a lei para todas as empresas do setor. "São apenas algumas fazendo e muitas não fazendo, que são representativas no volume total. O governo precisa mostrar que quem ficou de fora vai ser demandado a participar."

Além da parceria, Vilhena indica que outro ponto alto do programa é o investimento nas cooperativas, pois, para ele, os catadores são fundamentais no processo. "Só se recicla muito por causa do catador. As cooperativas servem para eles trabalharem com segurança e se organizarem", afirma.

Roberto Laureano já enxerga esse investimento para um passo além da capacitação. "Não queremos só ser apoiados com equipamentos e assistência técnica, que são importantes. A médio e longo prazo, queremos ser parte da cadeia no negócio."

Minidocumentário Reciclagem


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