Folha de S. Paulo


Documento mapeia iniciativas sustentáveis na indústria da moda

A indústria do vestuário tem 75 milhões de trabalhadores no mundo e acumula outro grande número: o de casos de exploração. Na contramão dessas empresas que compõe a "lista suja" estão 20 iniciativas que buscam produzir moda de forma justa e sustentável.

Elas aparecem numa espécie de "lista limpa", o Mapeamento de Inovação Sociais, feito pelo Instituto C&A, ligado à varejista, e pela Ashoka, parceiros do Prêmio Empreendedor Social.

Dessas organizações, três são brasileiras. E atacam o problema em diferentes frentes: uma investiga e denuncia casos de trabalho análogo à escravidão por meio do jornalismo, outra atua no desenvolvimento de uma agricultura sem uso de agroquímico e a terceira costura todos os agentes da cadeia com renda compartilhada entre todos.

Tatiana Cardeal/Divulgação
Fábrica de roupas da C&A, que trabalha, por meio de seu instituto, para que a moda se torne mais sustentável
Fábrica da C&A, que trabalha, por meio de seu instituto, para que a moda se torne mais sustentável

A primeira ideia nasceu em 2001, quando o jornalista Leonardo Sakamoto, um dos protagonistas do "Diálogos Transformadores - Trabalho e Imigração na Indústria da Moda", fundou a ONG Repórter Brasil.

De lá pra cá, a organização está na linha de frente do jornalismo investigativo sobre as cadeias de fornecimento sujas. Ela verifica as condições das fábricas e dos fornecedores das grandes marcas para compreender o impacto do trabalho forçado em produtos disponíveis para o consumidor.

Depois, divulga as informações, pressionando governos e empresas a coibir esse tipo de prática. A atuação do jornalista foi uma das responsáveis pelo governo federal voltar a divulgar, em março, sua "lista suja" após dois anos de falta de transparência no setor.

ESCOLHA DO LEITOR

Outro modelo de inovação, o Centro Ecológico, fundado pelo empreendedor social Laércio Meirelles, vem, desde 1985, enfrentando o desafio da indústria da moda de aumentar o uso de algodão orgânico.

O Brasil é o quinto maior produtor de algodão, mas, embora tenha produzido 1,2 milhão de toneladas de plumas em 2016, apenas 22 toneladas foram de fibras orgânicas.

A ONG, além de incentivar pequenos produtores a plantar sem uso de veneno, os ensina a buscar mercado para o produto. Faz também a certificação –uma exigência legal– desse algodão, com participação dos próprios agricultores.

Já a Justa Trama une todos os atores da cadeira, do trabalhador rural à costureira, em um modelo oposto ao padrão do setor. São 35 cooperativas que co-administram o negócio, tomam decisões de gestão e recebem rendimentos iguais, desde 2005.

Criado por Nelsa Nespolo, essa opção assegura que os trabalhadores sejam mais bem remunerados do que em outras fábricas têxteis. Os salários mais elevados, no entanto, não implicam em preços finais mais altos. Os produtos da Justa Trama têm preço inferior ao da maioria dos seus concorrentes no Brasil.

O Mapeamento de Inovações Sociais faz parte de uma iniciativa global chamada "Tecendo Mudança", que discute os desafios do setor da moda para um futuro sustentável.


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