Folha de S. Paulo


Conferência Ethos traz diversidade às mesas e lança plano contra corrupção

A Conferência Ethos 360° reuniu 1.200 empresários, especialistas e líderes de institutos e organizações do terceiro setor para pensar num projeto de retomada do crescimento do país pautado pela diversidade, nesta terça-feira (24) e quarta (25).

É a primeira vez que a conferência seleciona os palestrantes pensando em equilibrar o número de homens e mulheres –que ainda assim representaram 46%– e brancos e negros, que compunham cerca de 10% das mesas.

"Dirigentes mulheres são muito diferentes de dirigentes homens quando estão falando de questões ambientais e de impacto social. A gente precisa ter essa experiência plural se expressando aqui", afirma Caio Magri, diretor-presidente do Instituto Ethos.

Primeira vez também que o evento vai sair do eixo Rio-São Paulo. A terceira edição deste ano será em Belém, em outubro.

É uma tentativa de contornar a limitação das conferências do Ethos de falar apenas para empresas já comprometidas com práticas sustentáveis, segundo Magri.

A diversidade foi tema de, pelo menos, dez palestras, dentre elas "Mulheres e Negócios: o empreendedorismo que transforma o mundo", "Enfrentamento às desigualdades raciais no mercado de trabalho", "Como medir o valor da diversidade?" e "Respeito e inclusão LGBT nas empresas".

Magri atribui a mudança ao contexto social. "Nos últimos dois anos houve agudização do preconceito, radicalização de posições e aumento das bolhas, com reações violentas de intolerância no Brasil e no mundo. Incentivar o respeito às diferenças faz parte do nosso papel."

OBJETIVOS GLOBAIS

Os compromissos da agenda 2030 da ONU com os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) também permearam as mesas de discussão.

Um deles, de erradicar a fome, foi tema do painel "Segurança Alimentar: recursos naturais, resiliência e sustentabilidade agrícola", que lançou o Índice Global de Segurança Alimentar, do The Economist Unit.

O Brasil manteve o 38º no lugar, mas os pesquisadores alertaram que os cortes no orçamento do Ministério da Agricultura podem comprometer a independência do país.

"Setores públicos e privados devem trabalhar em conjunto para fornecer investimentos financeiros e inovações necessárias para garantir que o suprimento de alimentos seja suficiente para atender às necessidades da crescente população global," diz Katherine Stewart, editora do relatório.

Outro compromisso da agenda da ONU é o trabalho digno, pauta da mesa "Transparência como estratégia contra o trabalho forçado", que apresentou cases da InPACTO e da Transparentem, empresas com esse propósito.

"Precisamos acelerar a responsabilidade empresarial. Não é opcional trabalhar com o setor privado, porque ele está em tudo" diz Benjamin Skinner, fundador da Transparentem.

"A pergunta feita hoje pelos consumidores nos EUA e na Europa é 'Você mapeia toda a sua cadeia de produção?'. E é a indústria que tem que dar o primeiro passo para tirar milhares de pessoas da miséria e da exploração", afirma Skinner.

CORRUPÇÃO E TERCEIRO SETOR

Outro estudo lançado durante a conferência foi o Plano Nacional de Integridade, Transparência e Combate à corrupção, assunto que, junto à instabilidade econômica e política, se fez presente em vários debates.

"A gente está sem projeto de país. Há um retrocesso na agenda ambiental, com crescimento do desmatamento e perda de terras indígenas, afirma Magri. "Havia expectativa de que as reformas, como a trabalhista, pudessem gerar mais emprego e isso não aconteceu até agora."

O presidente do Ethos criticou também as prisões como única forma de combater a corrupção. "Não estamos combatendo as causas, que estão lá atrás. É preciso mudar a cultura", diz Magri.

Para ele, as empresas têm papel importante nessa mudança e deveriam fazer um lobby "do bem", além de se opor a crescer economicamente a qualquer custo, preferindo apostar na responsabilidade social e ambiental.

Especialistas apoiaram ainda que o Estado condicione suas compras públicas tendo a sustentabilidade como critério, ou seja, aceitando fazer contratos apenas com empresas que tenham mecanismos de integridade consistentes.

Para Caio Magri, a integração das empresas privadas com o terceiro setor é outro caminho. "Muitas criaram suas fundações para desenvolver o braço social, mas têm empresas trazendo essa ação para dentro do 'core business', do negócio."


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