Folha de S. Paulo


Tecnologia de combate à dengue ajuda a controlar doenças ligadas a chuvas

As enxurradas do fim de maio no Nordeste, que registrou quase o dobro de volume de chuva da média histórica e deixou mais de mil famílias desabrigadas em Alagoas, trazem a preocupação com as doenças causadas pelas enchentes, como leptospirose e hepatite A.

Em uma iniciativa inovadora, a Prefeitura de Marechal Deodoro, cidade histórica da região metropolitana de Maceió fortemente atingida pela tragédia, e a Secretaria de Saúde do município desenvolveram uma ferramenta de prevenção, monitoramento e combate a essas enfermidades para disseminar a cerca de 2.000 famílias atingidas o cuidado com a saúde.

O uso da tecnologia faz parte de um pacote de ações que já vêm sendo realizadas pela secretaria, por meio do envio de mensagens SMS aos números cadastrados no sistema, desenvolvido pela catarinense Tá.Na.Hora Saúde Digital, especialista em tecnologia e impacto social, que já utiliza o software para monitorar gestantes e combater dengue e zika.

Para o prefeito Cláudio Filho, iniciativas como essa são sempre bem vindas em Marechal Deodoro. "As tecnologias estão presentes em tudo na nossa vida. Por que não utilizar em favor de situações especiais em que a população precisa de um amparo maior? A saúde não pode nunca estar em segundo plano."

O sistema chega em boa hora, pois o Estado já registrou cinco mortes por leptospirose, uma das doenças monitoradas. "Por enquanto, não houve casos em Marechal Deodoro, mas nossa sistema já identificou vários casos prováveis", afirma Michael Kapps, cofundador da Tá.Na.Hora e finalista do Prêmio Empreendedor Social de Futuro 2016.

Além da leptospirose, a ferramenta utiliza inteligência artificial para monitorar a população e levar informações por mensagens de texto sobre os perigos de hepatite A, febre tifoide, dentre outras comuns após enchentes.

"A população, por sua vez, deve responder as perguntas e não pagará pelo envio. Daí em diante, havendo indícios de anormalidades, as enfermeiras nas unidades de saúde receberão alertas por e-mail, SMS e também no sistema de monitoramento para que possam entrar em contato ou enviar um agente de saúde até a residência", explica Kapps.

Aérton Lessa, secretário Municipal de Saúde, ressalta a acessibilidade e a praticidade. "Qualquer cidadão em contato com as enchentes pode receber as mensagens em seu aparelho celular", explica. Para fazer o cadastro, gratuito, é necessário enviar ao número 28403 a palavra "enchente".

"Estamos dando mais condições de trabalho aos nossos agentes e mais comodidade à população graças à tecnologia que também nos propicia um alcance maior", diz Lessa.

Para Kapps, foi gratificante montar uma força-tarefa para disponibilizar o serviço. "Devido à gravidade da situação, corremos contra o tempo e montamos o robô em apenas alguns dias", relata. "Acho que esse trabalho é apenas o começo. Outras áreas no Brasil enfrentam os mesmos problemas com doenças de origem hídricas."


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