Folha de S. Paulo


Educação digital é caminho para bom uso de tecnologia, aponta 'Diálogos'

Criar uma legislação ampla que regulamente a internet e investir em educação digital são fundamentais para o uso responsável de tecnologia e para conscientização dos usuários quanto aos conteúdos que acessam e compartilham na web e nas redes sociais.

Estes dois pontos foram os mais debatidos por especialistas, empreendedores sociais e ativistas na segunda edição da série "Diálogos Transformadores" deste ano. O encontro foi realizado pela Folha, em parceria com a Ashoka, nesta terça-feira (30), no auditório do jornal em São Paulo, com transmissão ao vivo pela TV Folha.

O debate com o tema "Tecnologia e Internet: Uso Responsável" foi apresentado pela Vivo e mediado por Eliane Trindade, editora do Prêmio Empreendedor Social, reuniu sete convidados que atuam em diferentes áreas.

Rodrigo Nejm, diretor da SaferNet (organização que reúne profissionais de várias frentes com a missão de defender e promover os Direitos Humanos na Internet), abriu o diálogo ressaltando a importância de iniciativas que ajudem a identificar conteúdo que faça menção à alguma violação de direitos, como pedofilia ou cyberbullying.

Nejm também pontuou que o assunto deve ser tratado pela sociedade como um todo, "O problema não é a internet, mas a forma como ela é utilizada. É preciso empoderar as pessoas para entenderem mais a internet e a usarem melhor".

Para Rodrigo Baggio, fundador da ONG Recode, que estabelece parcerias com instituições e escolas públicas para promover o empoderamento digital, a melhor forma de lidar com essa questão é a educação.

"Nós acreditamos que devemos formar cidadãos digitais e não apenas dar as condições de acesso" diz. Baggio, que é empreendedor social das redes Schwab e Ashoka, também considerou que vivemos um momento crucial por conta do avanço da tecnologia e o impacto que ela causa na forma como nos relacionamos com o mundo e é preciso que os usuários desenvolvam uma consciência digital.

A falta de consciência e de responsabilidade de usuários foi exemplificada pela experiência da jornalista Rose Leonel. Após ter fotos íntimas divulgadas pelo ex-noivo na internet, ela criou a ONG Marias da Internet, na tentativa de ajudar outras mulheres vítimas do mesmo crime digital.

Rose contou que, além das questão legais insuficientes para punir quem causa esse tipo de agressão, a vítima também se depara com o despreparo das autoridades na abordagem do assunto. "Nem todos os advogados estão preparados para lidar com o tema", explica. "Muitas vezes, ouvi que não daria em nada ir atrás disso".

No fim do primeiro bloco, Michael Kapps, sócio do Tá.Na.Hora Saúde Digital, empresa que atua por meio de parcerias com prefeituras e empresas privadas para enviar mensagens (SMS) com dicas e perguntas para pacientes, contou um pouco sobre a origem de seu negócio social, que foi finalista do Prêmio Empreendedor Social de Futuro em 2016.

"Se podemos compartilhar vídeos curtos e mensagens para falar de outras coisas por que não usar isso para ajudar as pessoas"?

Além de Kapps, outro caso inspirador apresentado neste "Diálogos Transformadores" foi o de Kamila Brito, criadora do projeto Barco Hacker.

Brito falou sobre sua experiência em conectar pessoas de comunidades ribeirinhas na Amazônia, que possuem celular, mas não sabem como usá-los, e ensiná-las a utilizar a rede em benefício próprio. "Isso é feito através de workshops e palestras e até com o apoio pontual de grandes corporações como Google e Facebook",disse.

O segundo bloco trouxe outro assunto importante para o debate: a privacidade e proteção de dados pessoais. Mais uma vez, foi discutida a necessidade de uma legislação abrangente.

O advogado Renato Ópice Blum, especialista em direito digital, ressaltou a importância de uma lei de proteção de dados, algo que ainda não existe no país, para que os usuários possam ter algum resguardo legal.

"É necessária uma coalizão internacional para harmonizar as leis existentes e as futuras leis para que se possa ter um clima de proteção, uma vez que a internet não tem fronteiras. Do ponto de vista jurídico, uma ação em um país pode gerar uma consequência em outro" complementou.

Para Elizabeth Veloso, consultora da Câmara dos Deputados para a área de ciência, tecnologia, comunicação e informática, é preciso ter uma "cultura da segurança da rede".

Ela também alerta sobre a urgência na criação de uma regulamentação para a internet em relação a disponibilização de dados pessoais através de políticas públicas, capazes de intervirem entre os usuários e gigantes como Google e Facebook.

Veloso ainda falou sobre iniciativas que ajudam na divulgação de informações sobre a proteção de dados na internet."O CGI (Comitê Gestor da Internet no Brasil) tem cartilhas disponíveis na internet que abordam o tema de maneira muito didática".

Os eventos da série Diálogos Transformadores podem acessados no canal especial da série na TV Folha. Além das íntegra das cinco edições já realizadas, é possível assistir aos melhores momentos dos eventos sobre Reciclagem, Desmatamento, Empoderamento Feminino e Economia Circular em minidocumentários que também fazem parte da plataforma multimídia.

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Assista à íntegra do debate

Diálogos Transformadores: Tecnologia e Internet


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