Folha de S. Paulo


Medir impacto social é caminho para eficácia, dizem empresas

A experiência de grandes empresas na medição de impacto de seus projetos de responsabilidade socioambiental pode servir de inspiração e modelo para o poder público e para o terceiro setor e o ecossistema de negócios de impacto social.

Foi essa uma das conclusões do debate "Medição de Impacto Social: Casos e Experiências de Empresas", promovido pelo Insper Metricis e Natura, que reuniu ainda Coca-Cola e Itaú Social.

"Buscamos a democratização da avaliação de impacto e por isso estamos unindo esforços com iniciativas como a Força-Tarefa de Finanças Sociais", afirmou Sergio Lazzarini, coordenador do Insper Metrics, que lançou um Guia de Avaliação de Impacto Socioambiental.

Medir resultados de projetos e ações pode ser, de fato, uma ferramenta poderosa para orientar gestores à frente de políticas públicas. Avaliação de impacto vem sendo também, cada vez mais, uma exigência de investidores na hora de financiar projetos e negócios sociais.

Para o professor Naércio Menezes Filho, do Centro de Políticas Públicas do Insper, que abriu o debate, a avaliação de impacto dos investimentos em educação nas últimas décadas, por exemplo, mostra que se gasta três vezes mais por estudante no ensino médio no Brasil, em comparação com 1995.

No entanto, os alunos têm notas menores que em 1995. "O aprendizado está estagnado e menor do que há 20 anos", explica o especialista.

A conclusão é de que temos mais alunos na escola, mas não aumentamos o aprendizado, o que impacta diretamente na produtividade da economia brasileira.

Menezes levantou ainda outra questão importante: como lidar com os dados obtidos nas avaliações. "Não se pode ter medo de comunicar resultados ruins", afirmou ele, sobre o temor de abalo de imagem por parte de empresas e governos diante de dados aquém do esperado.

Um ponto também destacado por Angela Dannemann, do Itaú Social, que desenvolve tecnologias para a melhoria da educação pública brasileira. "Para empresas e fundações, comunicar quando a coisa não funciona é difícil, mas temos que aprender com a avaliação, corrigir os erros e melhorar."

Ela destacou a importância de mostrar resultados e impacto de projetos de responsabilidade social, de forma a medir retorno do investimento para a sociedade.

"É o tipo de monitoramento pouco feito no Brasil. Temos que checar se os programas estão sendo implementados de forma correta, um processo que vai nos levar à eficiência, eficácia e efetividade", concluiu Dannemann.

Um dos "cases" apresentados no encontro foi o da Natura, que criou um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) para medir o impacto do modelo comercial da empresa na vida de suas 1,5 milhão de revendedoras.

Marcelo Santos, gerente sênior de Relações Comercias da Natural, explicou que a avaliação usou como referência o IDH da ONU, aplicado à realidade das consultoras Natura.

"Nosso objetivo foi gerar padrão de ação e ampliar o impacto avaliando as pessoas conectadas ao nosso modelo de negócio", explicou.

Em 2014, o IDH das consultoras foi 0,55, passando para 0,59, em 2015, e a 0,593, em 2016, ano em que foi registrado uma queda no índice de saúde.

A partir dos resultados, foi criada uma plataforma de benefícios exclusiva para as revendedoras, de forma a melhorar o acesso a serviços médicos. Também são oferecidas bolsas para cursos de idioma e preparatórios para o Enem, por exemplo.

Já a Coca-Cola apresentou o projeto Desenvolvimento Territorial e Índice de Progresso Social no Médio Juruá, no Amazonas.

O antropólogo Luiz André Soares, da área de Governo e Alianças Estratégica da Coca-Cola, relatou a experiência de três anos nas cadeias de açaí e guaraná em um território de 26 mil km² e que abriga duas reservas extrativistas.

"É preciso dois dias de barco para cruzar esse território, que tem uma densidade de 1 habitante por km². Tudo é grande e a diversidade, latente", destacou.

Diante do desafio de intervir naquela realidade, a Coca-Cola se associou à Natura, que também atuava na região, para somar esforços e melhorar a eficácia da intervenção.

"Havia uma duplicidade de ações e problemas muito parecidos", relata Soares.

A Coca-Cola, a Natura e o Ipsos construíram uma métrica chamada de IPS (Índice de Progresso Social) Comunidades.

A metodologia é do SPI (Social Progress Imperative), responsável pela apuração do índice global e do IPS Amazônia.

"Os índices são estoques de saberes que nos auxiliam quando precisamos de variáveis econômicas para entender áreas específicas e como devemos trabalhar com a economia da floresta", ressalta o antropólogo.

Segundo ele, o IPS se tornou um instrumento importante para corrigir ações e entender se estão certos no investimento e na intervenção na região Amazônica.

Ele citou o caso do futuro investimento em saneamento e infraestrutura, com aporte de recursos de 50% das duas empresas. "O investimento conjunto dará robustez à ação."


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