Folha de S. Paulo


Startup brasileira voltada à educação política recebe prêmio em Davos

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Equipe da Politize!, startup brasileira voltada à educação política, premiada no Forum Ecônomico Mundial
Equipe da Politize!, startup brasileira que venceu duas vezes o prêmio 'Shaping a Better Future'

A Politze! foi uma das vencedoras do prêmio "Shaping a Better Future" ("moldando um futuro melhor", em tradução livre), anunciado durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos.

A startup – uma plataforma de educação política online – já havia levado o prêmio de US$ 10 mil também em 2014. Neste ano, concorreu com um novo projeto, voltado para estudantes do ensino médio em Joinville (SC).

O prêmio, criado pela Coca-Cola, financia desde 2013 iniciativas inovadoras ao redor do mundo. Mais de cem projetos concorreram e foram votados pela comunidade dos Global Shapers, que escolheu os cinco finalistas.

Os Global Shapers são uma rede mundial com mais de 6.000 jovens voluntários, espalhados por mais de 450 cidades ("hubs"), que busca impactar positivamente suas cidades por meio de projetos, conexões e compartilhamento de aprendizados. A rede foi criada pelo Fórum Econômico Mundial e jovens brasileiros que quiserem fazer parte dela podem se inscrever até o dia 10 de fevereiro.

"O que a gente busca com isso é acelerar soluções que tenham um potencial de criar comunidades melhores e mais sustentáveis" explica Pedro Massa, Diretor de Valor Compartilhado da Coca-Cola Brasil.

No Brasil, a empresa tem outra iniciativa voltada para o apoio às startups, em conjunto com a Artemísia – que também é parceira do Prêmio Empreendedor Social. Trata-se do Coca-Cola Open Up, uma plataforma de inovação aberta e aceleração.

"Desde então a gente têm acelerado algumas soluções, a grande maioria de jovens entre 20 e 30 – o que está bem conectado com a comunidade dos Global Shapers", explica Pedro. Em 2014, o desafio "The Boat Challenge", em parceria com a comunidade de Manaus, reuniu empreendedores com projetos para o desenvolvimento da cidade.

COMO SURGIU O POLITIZE?

Quando os protestos de 2013 ocorreram, o administrador Diego Calegari Feldhaus, 29, decidiu que precisava fazer algo a respeito. Surgia ali o embrião da companhia.

Em 2014, o clima político do país pesou ainda mais, e polarizou-se por causa das eleições. Ficou claro que muita gente não sabia do que estava falando.

Diego levou então à comunidade dos Global Shapers sua ideia de criar uma plataforma de educação política. Com o apoio de diversas pessoas, entrou em contato e entrevistou cerca de 100 pessoas do campo da política, ao longo do primeiro semestre. A ideia era entender melhor o setor e evitar redundâncias, ou seja, evitar fazer algo que já estivesse sendo feito.

No segundo semestre daquele ano, Diego submeteu a ideia ao congresso anual da rede de Global Shapers, que ocorre em agosto. Ao mesmo tempo, iniciou uma campanha para arrecadar fundos no Catarse, site de crowdfunding, e conseguiu levantar, em setembro e outubro, mais de R$ 67 mil.

Com a boa receptividade, seu projeto acabou ficando entre os mais votados pelos outros jovens da rede, o que levou a Politize! a ficar entre os finalistas do prêmio "Shaping a Better Future" em 2014. O financiamento, aliado ao dinheiro do crowdfunding, foi suficiente para tirar o site do papel.

A plataforma está no ar desde julho de 2015, conta com mais de 500 conteúdos e possui média mensal de visitantes que varia entre 500 e 700 mil acessos e não tem inclinações ideológicas e político-partidárias.

"A gente sempre busca a pluralidade, mostrar o máximo de visões e perspectivas sobre aquele assunto, pra que o próprio usuário possa tomar uma decisão em relação ao que ele acredita", explica Diego.

"É uma equipe diversa, do ponto de vista do pensamento, em relações a questões ideológicas e políticas. Isso não interfere no nosso trabalho, só nos ajuda a tentar manter um olhar crítico sobre o que a gente está fazendo."

POLITIZE! NAS ESCOLAS

Nascido em Joinville (SC), Diego diz que seu interesse por educação vem de família. "Minha mãe é professora, minha avó foi professora... quase todas as mulheres da minha família foram professoras", diz. Para ele, isso ajudou a ver a educação também pela perspectiva dos educadores.

Hoje, Diego é diretor de Inovação e Tecnologia na Secretaria de Educação de Santa Catarina. Foi um dos fundadores do "hub" do Global Shapers em Florianópolis (SC), além de gestor do Politize!.

"Nossa vontade também sempre foi atuar com jovens e crianças, por entender que essa é uma janela de formação muito importante, onde eles vão adquirir muitos dos valores que vão carregar ao longo da vida", diz ele.

Pensando nisso, e em contato com a comunidade dos Global Shapers, Diego teve a ideia de levar o projeto às escolas. Para isso, deixou o "hub" de Joinville (SC), como responsável.

"A proposta era levar uma educação política, em um formato divertido, com infográficos – como é o site –, diretamente às escolas", explica a coordenadora do "hub" de Joinville, Amanda Meyer da Luz, 30.

Foi ela que participou do último congresso de Global Shapers, na Suíça, onde apresentou e fez o lobby pelo projeto.

Politize! nas escolas

"Com o prêmio, vamos contratar uma pessoa específica para cuidar disso. É um projeto robusto, vai exigir muitas idas à escolas, muitas conversas com professores, com alunos", explica Diego.

Dessa vez, os recursos não serão investidos integralmente na plataforma digital. Isso porque muitas escolas públicas ainda não têm acesso a bons computadores e internet de alta velocidade.

O objetivo é apostar em conteúdo e metodologia. "Algo que seja altamente escalável, facilmente replicável, para que qualquer pessoa com algum tipo de compreensão pedagógica consiga pegar e aplicar na sua sala de aula", explica Diego.

Para ele, o importante é sair de um modelo meramente expositivo de transmissão de conteúdos, para trabalhar com metodologias ativas que ajudem a desenvolver habilidades importantes para se viver em coletividade.

"Educar para a cidadania é educar para aceitar, abraçar e valorizar a diversidade. Acho que quem não tem isso em mente dificilmente vai fazer um bom trabalho de educação política hoje", sintetiza Diego.


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