Folha de S. Paulo


Fogões sustentáveis levam melhor qualidade de vida para Bahia

No Brasil, o fogão a gás, considerado a maior inovação dos anos 1930, ainda não chegou a 3 milhões de lares, que preparam seus alimentos em fogões a lenha. O número supera a estimativa da América Latina inteira.

A maioria dessas casas está no interior do Brasil. Os fogões ainda são rústicos, sem planejamento adequado, montados com uma grelha sobre duas pedras. A realidade de cerca de 6.400 pessoas no Recôncavo Baiano, no entanto, começou a mudar em 2010.

O Instituto Perene passou a construir fogões sustentáveis, pensados para gerar o máximo de calor com o mínimo de lenha e não deixando que a fumaça contamine o ambiente e os pulmões de quem os utiliza.

O prejuízo na saúde é o principal problema. Uma das filhas de Maria da Luz da Conceição, 54, moradora de Maragogipe (BA), a 140 km de Salvador, sofreu as consequências do antigo fogão a lenha ainda criança.

"Era muita fumaça. Ela adoeceu, teve problema de pulmão", lembra Maria da Luz. "Ela não conseguia dormir, tinha tosse. Gastei muito com isso."

Depois dos problemas de saúde da filha, a moradora do Recôncavo passou a utilizar o fogão a gás, gastando cerca de R$ 60 em cada botijão. Em 2011, no entanto, ao receber o modelo a lenha sustentável, pode voltar a economizar.

"Ele não empretece as panelas, não solta fumaça na casa", conta Maria da Luz, que agora usa um botijão por ano. "Cozinho de tudo nele. Feijão, carne, galinha, até café. Só uso o gás para esquentar água."

O investimento de R$ 60 no botijão é rapidamente compensado pela contrapartida de R$ 250 exigida para a construção do fogão sustentável. O valor inclui a construção da base e a lata como as de Leite Ninho, usado para fazer a saída do resíduo.

O restante é patrocinado pela Natura, que selecionou o Instituto Perene em um edital como parte de sua política de Carbono Neutro, iniciada em 2007, ano que os protótipos dos fogões começaram a ser elaborados.

CONFIANÇA

Para conseguir erguer os fogões, Guilherme Valladares, diretor da organização, precisa antes investir na construção da confiança com os potenciais beneficiários. Para isso, conta com o trabalho de agentes comunitários como Crispina Bispo Barbosa, 48, a primeira a receber o modelo em 2009, ainda sem o patrocínio da empresa de cosméticos.

Após vencer esta etapa, no entanto, é preciso convencer os moradores de que o fogão é melhor do que aquele que já estão acostumados.

Foi assim com Odete Calisto, que recebeu o modelo sustentável no fim de novembro de 2016. No início, ela ficou com dúvida sobre a eficiência do fogão. "Estou acostumada com bocão", explica. Odete reclama da "vista atacada" por causa da fumaça.

A cozinha também foi "atacada" pelo antigo fogão. Mesmo de dia, o cômodo ficava escuro por causa das paredes empretecidas. Os utensílios utilizados também estavam da mesma forma. "Dava até dó de usar panela nova."

Quando recebeu o novo fogão, achou que era "o melhor presente de Natal". Ela é lavradora e se embrenha na mata para buscar a lenha sozinha. A utilização de menos madeira significa menos recolhidas, que vêm com riscos por causa de animais silvestres, como cobras.

De fogão novo, Odete diz que "pode usar qualquer panela" e ainda economizar na lenha. "Usava um monte de lenha para cozinhar aipim."

A repórter PATRICIA PAMPLONA viajou a convite da Natura


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