Folha de S. Paulo


Tá.Na.Hora usa SMS para disseminar informações e monitorar saúde

Para os pais de primeira viagem Jessica Engel, 18, e Jefferson Kwitschal, 21, as mensagens começaram a chegar desde a primeira consulta de pré-natal.

A cada SMS vinham orientações sobre o passo a passo da gestação e até sugestões para o futuro pai massagear os pés da companheira.

"Eu tinha medo do parto, mas as mensagens falaram para caminhar, para conversar com o pai e para pensar em coisas boas e isso ajudou", diz Jessica.

Após o nascimento da filha, Isabelly, que está com sete meses, a mãe continua a receber mensagens sobre o o desenvolvimento da bebê e dicas como possibilidade de reação às vacinas.

Conheça a Tá.Na.Hora

Cerca de 300 mães estão sendo monitoradas em Rio Negrinho (SC), onde a Tá.Na.Hora Saúde Digital realizou o piloto do SMS Bebê, programa de monitoramento de gestantes e bebês presente em quatro Estados.

A start-up social disponibiliza 50 programas diferentes voltadas para doenças ou questões de saúde diferentes, distribuídos em mais de 400 versões e adaptados para grupos demográficos específicos.

São enviadas atualmente 57 mil mensagens por mês, atingindo 40 mil famílias (estima-se 100 mil pessoas).

Na prática, as mensagens tentam influenciar o comportamento do paciente de forma positiva, encorajando práticas saudáveis e a adesão ao tratamento, se houver.

"Nós acreditamos que nem tudo na saúde se resolve com mais médicos ou mais medicamentos. Tentamos influenciar o comportamento humano usando o celular", diz Michael Kapps, cofundador da Tá.Na.Hora.

A equipe do serviço de saúde digital constrói "árvores" de perguntas e respostas que vão direcionando o "robô" que envia as mensagens, para que essas sejam adequadas às respostas dadas pelo usuário.

Os profissionais também estudam os horários em que as mensagens são enviadas e que tipo de SMS tem maior taxa de resposta, para que o engajamento seja cada vez maior.

IMPACTO

Um estudo clínico está em andamento para medir o impacto das mensagens frequentes via celular na saúde das famílias que fazem uso do SMSBebê.

Resultados preliminares indicam maior conhecimento da mãe e aumento da presença do pai no pré-natal; estão sendo monitorados outros quesitos como vacinação das crianças e desenvolvimento cerebral.

Flávia Trindade dos Santos, enfermeira da Unidade Básica de Saúde do bairro do Cruzeiro, em Rio Negrinho (SC), diz que os SMS enviados para gestantes e mães ajudam a reduzir as idas desnecessárias à unidade, já que muitas dicas orientam sobre ocorrências normais na gravidez e primeira infância.

Outro efeito das mensagens é aumentar a participação dos pais, que também podem se cadastrar para receber os SMS. "Nem todos podem vir às consultas de pré-natal, mas por receberem as mensagens acompanham melhor a gestação", diz ela.

As mensagens constantes acabam por criar vínculos. "É como um amigo virtual. Eu acordava e já ia olhar as mensagens", diz Marina Pereira, 31, que recebe os SMS desde o início da gestação do filho Matheus, hoje com um ano.

Em um estudo interno, foi identificado aumento de 10% de adesão aos medicamentos, 10% na taxa de vacinas em crianças cadastradas no SMS Bebê, e engajamento de 90% em pacientes em pré e pós-operatório.

"Da gravidez dos meus outros quatro filhos, ninguém me perguntava como eu estava me sentido. Às vezes, a gente se sente meio carente. No virtual eu tinha um amigo", relata Ilka Lemes, 43, sobre as mensagens de texto que lhe acompanharam durante a quinta gestação.

A Tá.Na.Hora investe no momento em um projeto piloto do SMS Especial, voltado aos pais de crianças com síndrome de Down, que vão recebam mensagens sobre saúde e desenvolvimento.

"Vamos mandar mensagens aos pais e parentes para garantir a estimulação das crianças e depois também para empoderar os adolescentes e eles possam entrar no mercado de trabalho", afirma Michael Kapps, o cofundador do negócio social de saúde digital.

VACINA DA DENGUE

Outro projeto em andamento é com o Instituto Butantan, de São Paulo. Por meio do sistema da Tá.Na.Hora, os pesquisadores usam SMS para o estudo clínico com brasileiros que estão testando uma vacina da Dengue

Desde fevereiro, a Tá.Na.Hora monitora os 16.944 voluntários em 12 Estados. Eles serão acompanhados por cinco anos para medir a eficácia da imunização daquela que pode ser a primeira vacina desenvolvida pelo SUS.

É um projeto de R$ 300 milhões, financiado pelo governo federal em parceria com o Instituto Nacional de Saúde dos EUA.

A Tá.Na.Hora encarou o desafio de fazer parte de um estudo tão relevante. "Eles viram a oportunidade de trabalhar no desenvolvimento de uma vacina no sistema público, pelo SUS e para o SUS", afirma Ricardo Palacios, gerente de pesquisa do Instituto Butantan.

Os SMS disparados semanalmente possibilitam um acompanhamento mais ágil, com maior segurança e menor necessidade de visitas e telefonemas periódicos aos voluntários submetidos aos primeiros testes vacina contra a dengue.

Hoje, o SUS representa 50% do faturamento da Tá.Ná.Hora, os outros 50% são advindos de receitas do setor privado, no qual a start-up social está ligada a grandes empresas que fornecem o serviço a seus funcionários e planos de saúde nacionais, como os da Unimed, e regionais.


Endereço da página:

Links no texto: