Folha de S. Paulo


Brasil ultrapassa Europa e se torna líder em empresas juniores no mundo

O Brasil se tornou líder mundial em número de empresas juniores, superando a quantidade de negócios tocados por estudantes dentro de universidades em toda a Europa.

Em 2015, foram computadas 311 empresas distribuídas por universidades brasileiras, enquanto o continente europeu, onde o movimento surgiu na década de 1960, possui 296 iniciativas operando nos mesmos moldes.

Divulgação/Brasil Júnior
Alunos da ESPM do Rio Grande do Sul durante trabalho na empresa júnior Co.De Comunicação e Design Jr
Alunos da ESPM do Rio Grande do Sul durante trabalho na empresa Co.De Comunicação e Design Jr

Os dados fazem parte do Censo e Identidade da Confederação Brasileira de Empresas Juniores, a Brasil Júnior, lançado anualmente e divulgado pela Folha com exclusividade.

O setor faturou cerca de R$ 10 milhões no ano passado, quase o dobro dos R$ 5,7 milhões registrados em 2014. O número de negócios também saltou de 222 para 311 no período.

Evolução

Foram ouvidas no último levantamento 237 empresas e 3.385 empresários juniores em todo o país.

"A pesquisa traça um perfil nacional e mostra o crescimento do movimento a ponto de estarmos levando esse modelo para outros países, como ótimo exemplo para o desenvolvimento econômico local e empregabilidade do universitário", diz Pedro Rio Verde, presidente da Brasil Júnior.

A liderança brasileira, segundo ele, explica-se por uma deficiência das universidades brasileiras, que não oferecem cursos de empreendedorismo, como acontece nas norte-americanas. "Lá é muito forte. No Brasil, não temos isso. Então as empresas juniores complementam uma ausência de ensino na prática", afirma.

Áreas de atuação

A pesquisa revela que a maioria das empresas juniores brasileiras (40%) são ligadas aos cursos de engenharia. "A iniciativa nasceu no Brasil na área de administração, mas, com o passar do tempo, houve um boom das engenharias", diz Rio Verde.

Em segundo lugar aparece a área de ciências sociais aplicadas (18%), seguida por ciências humanas (14%).

Pelo levantamento, do total de clientes que contrataram algum tipo de serviço de uma empresa júnior no ano passado, 75% são empresas de pequeno porte e 57%, micro.

Por serem desenvolvidos por estudantes, os serviços chegam ao mercado com um custo mais baixo e competitivo.

Empresas juniores estão presentes em 287 universidades brasileiras, entre particulares e privadas. No entanto, 93% delas se concentram em instituições públicas federais e estaduais.

Empresas Juniores pelo mundo

CARREIRA

A experiência prática de liderança e protagonismo adquirida no comando de uma empresa ainda na faculdade pode ser um diferencial na hora de ingressar no mercado de trabalho.

Segundo Rio Verde, empresas como Ambev, Itaú, Caixa Seguradora, Votorantin e Globo, fazem processos de seleção de trainees exclusivamente para estudantes que integram o projeto.

"O universitário tem anseio de ver o que o mercado precisa. Então, a empresa júnior acaba sendo uma oportunidade de ver rápido o que o mercado vai cobrar", afirma.

É em busca do crescimento pessoal e profissional que 60% dos entrevistados ingressaram em uma empresa júnior.

É o caso de Joice Toyota, 31, que entrou para para a empresa júnior da engenharia elétrica da Universidade de São Paulo ainda no primeiro ano do curso.

"Era uma oportunidade de aprender sobre gestão e engenharia e foi o lugar onde mais aprendi na prática sobre a profissão", diz Joice, cofundadora do Vetor Brasil, organização que oferece trainees para o setor público.

A experiência, segundo ela, facilitou sua entrada no mercado de trabalho. "Passei por uma experiência prática de negócios e de fazer parte de um time", explica. "Liderar e ter proatividade já era natural no meu primeiro emprego, enquanto os outros recém-formados não tinham tanta habilidade."

O QUE SÃO AS EMPRESAS JUNIORES

As empresas juniores são associações sem fins lucrativos e os estudantes vinculados são voluntários. Elas surgiram na França, na década de 1960, e chegaram ao Brasil em 1988, com o primeiro projeto iniciado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), em São Paulo.

Os negócios que nascem no ambiente universitário cobram pelos serviços prestados e direcionam os recursos para capacitação e fomento do próprio projeto.

Atualmente, mais de 11 mil universitários, ligados às 311 empresas juniores confederadas em 18 Estados e no Distrito Federal, operam seus projetos dentro das instituições de ensino.

Toda empresa júnior é integrada e gerida exclusivamente por estudantes matriculados em cursos de graduação. O propósito é realizar projetos e serviços que contribuam para o desenvolvimento acadêmico e profissional dos universitários.

Além de promover o desenvolvimento econômico e social da comunidade na qual está inserida, é também uma forma de fomentar o empreendedorismo entre os estudantes.

Somando-se às empresas confederadas, há, ainda, mais 951 iniciativas, mas que estão em estágio embrionário e precisam se adequar à legislação, aprovada em 6 de abril.

"Com a lei [13.267, que regula a atividade dos negócios universitários], nos próximos três anos, devemos mais que duplicar o número de empresas juniores no país e chegar a pelo menos 600", afirma Rio Verde.


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