Folha de S. Paulo


10 lições de empreendedoras para ter sucesso em negócio de impacto social

Se jogar no mundo do empreendedorismo é um desafio ainda maior para as mulheres.

De cada dez negócios sociais no Brasil, três são liderados por empreendedores do sexo feminino, segundo dados da aceleradora Artemisia.

Nesta terça-feira (8), Dia Internacional da Mulher, a Folha convidou dez integrantes da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais para compartilhar suas experiências e lições como líderes de iniciativas de impacto social.

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1. Transformação é processo coletivo

"Estou envolvida há 36 anos em atividades coletivas na Maré, onde cresci. Nesse período, fui dominada pelo entendimento de que a garantia de direitos para a população da região passa, necessariamente, pela clareza sobre o papel que os moradores podem cumprir nas mudanças que desejam ver concretizadas. Entender e reagir coletivamente diante da realidade desigual que vivenciei como moradora foi a forma encontrada para produzir soluções originais e estruturantes que foram concretizadas na região."

ELIANA SOUSA SILVA, fundadora da Redes da Maré, Oscip que visa promover a construção de uma rede de desenvolvimento territorial no maior complexo de favelas do Rio e finalista do Prêmio Empreendedor Social 2015.

Eliana Sousa Silva, empreendedora social

2. Paixão pela transformação social

"É preciso ter conexão com a causa. Durante toda a minha trajetória, vivenciei momentos em que o dinheiro foi uma fonte de preocupação, motivação ou limitação para as pessoas. Nossas decisões não precisam, necessariamente, serem pautadas pelo valor do dinheiro e sim pelo valor humano. Ser apaixonado pelo seu projeto é uma parte muito importante do sucesso. Sempre haverá dificuldades e barreiras enormes, apenas a paixão e um forte senso de propósito podem te motivar a fazer sacrifícios, persistir e chegar onde é preciso."

LORRANA SCARPIONI, fundadora do Bliive, negócio social baseado em um sistema colaborativo on-line que usa o tempo como moeda de troca e finalista do Prêmio Empreendedor Social de Futuro 2014.

Lorrana Scarpinioni, empreendedora social

3. Sair da zona de conforto

"Empreender é sair da zona de conforto. Eu fui diagnosticada com talassemia aos três anos e era distante do trabalho social. Esse desafio me impulsionou. A falta de conhecimentos de gestão me fez buscar alternativas, já que não bastava o olhar de paciente. É necessário conhecer toda a dimensão, impacto, atores engajados com o seu propósito, demandas de outras pessoas afetadas (pacientes, familiares, por exemplo) e mapear quem poderia ter interesse em ajudar (governo, empresas, profissionais da saúde etc.)"

MERULA STEAGALL, presidente da Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia), organização que produz e dissemina conhecimento, oferece suporte e mobiliza parceiros para alcançar a excelência e a humanização no cuidado integral de pacientes onco-hematológicos e vencedora do Prêmio Empreendedor Social 2013.

Merula Steagall, empreendedora social

4. Identificar uma necessidade

"O verdadeiro empreendedor, social ou não, é aquele que identifica uma necessidade e se importa tanto com ela que deseja lhe oferecer uma resposta. Assim, a primeira característica essencial ao empreendedorismo é o amor, sentimento à realidade e ao bem das pessoas que vivem uma determinada necessidade a tal ponto de desejar servi-las e ajudá-las a responder ou a encontrar a melhor resposta para essa necessidade. O amor é comprometido, insistente, persistente e é capaz de enfrentar os maiores desafios e dificuldades."

GISELA SOLYMOS, gerente-geral do Cren (Centro de Recuperação e Educação Nutricional), instituição que promove a recuperação e a educação nutricional efetiva de crianças e adolescentes com desnutrição primária leve, moderada ou grave, sobrepeso e obesidade e vencedora do Prêmio Empreendedor Social 2011.

Gisela Solymos, empreendedora social

5. Ter um projeto claro e definido

"A arte de empreender inspira e motiva pessoas, mas como em qualquer outro negócio, é preciso ter um projeto claro e definido. Não adianta querer resolver a questão da violência em uma comunidade, como em nosso caso, se você nunca foi lá ou não conhece verdadeiramente a demanda do seu público alvo."

DAGMAR GARROUX, fundadora e presidente da Casa do Zezinho, associação que trabalha com crianças e jovens em situação de vulnerabilidade e risco social para que superem as limitações impostas pelo meio em que vivem, conquistando autonomia de pensamento e de ação e finalista do Prêmio Empreendedor Social 2011.

Dagmar Garroux, a Tia Dag, empreendedora social

6. Definir prioridades a cada momento

"Definir prioridades é fundamental, mas também ser flexível, pois tudo muda rapidamente e os tomadores de decisão nem sempre estão abertos aos ajustes necessários para atingir eficácia. Já aconteceu de traçarmos planos para conservação ambiental de uma região que depois ficou conhecida como palco de conflitos. Então, incluímos os assentados no projeto. O resultado é que, hoje, contamos com aliados à conservação e muito desse trabalho foi feito pelas mulheres, que cuidam das pequenas mudas e ajudam a manter a integridade do local."

SUZANA PÁDUA, presidente do IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas), organização que desenvolve e dissemina modelos inovadores de conservação da biodiversidade e de desenvolvimento socioeconômico por meio de ciência, educação e negócios sustentáveis e vencedora do Prêmio Empreendedor Social 2009.

Suzana Pádua, empreendedora social

7. Desistir nunca, adaptar sempre

"Muitas mudanças de rumo aconteceram na Asta que poderiam ser consideradas por alguns como fracasso ou desistência, mas o que sempre fizemos foi encará-las como necessárias para melhorar o impacto que geramos. São sempre por causa dessas mudanças ou desafios que conseguimos crescer, amadurecer para ser melhor, mais conscientes."

ALICE FREITAS, diretora-executiva da Rede Asta, organização que fortalece o acesso a mercados e conhecimentos e a criação de redes de empreendimentos produtivos da base da pirâmide e finalista do Prêmio Empreendedor Social 2013.

Alice Freitas, empreendedora social

8. Ter sensibilidade e percepção

"Para ser um empreendedor social de sucesso, é preciso, em primeiro lugar, ter sensibilidade e percepção. O que eu estou vendo que não me parece certo? Com o que eu não quero compactuar? Como eu vejo que posso mudar essa realidade? São três perguntas que todo o empreendedor deve fazer. Ele tem o desejo de cuidar, preservar e construir um futuro melhor para as pessoas e para o planeta. Isso vem da sua sensibilidade humana, que o faz entender a dor do outro ou da natureza. O empreendedor social é alguém que se importa e se sente responsável pelas suas ações ou não-ações. "

LUCIANA QUINTÃO, fundadora e presidente do Banco de Alimentos, instituição que tem como objetivo minimizar os efeitos da fome por meio do combate ao desperdício de alimentos e finalista do Prêmio Empreendedor Social 2011.

Luciana Quintão, empreendedora social

9. Democratizar a transformação

"É possível mudar realidades se você acreditar que as pessoas que vivem nesses locais são capazes de trabalhar isso, de transformar. É preciso democratizar. Aquilo que queremos mudar é de todos. Não é uma pessoa, é um coletivo. Se você faz parte de todos os problemas, você também será parte das soluções."

CYBELE AMADO, diretora-executiva do Icep (Instituto Chapada de Educação e Pesquisa), organização que busca contribuir para a melhoria da qualidade da educação pública e mobilizar redes colaborativas e vencedora do Prêmio Empreendedor Social 2012.

Cybele Amado, empreendedora social

10. Levar outras mulheres à liderança

"Após chegar a um posto de liderança, é fundamental que a empreendedora trabalhe ativamente para levar outras mulheres a posições de liderança. Ter uma liderança feminina é fundamental, é uma conquista. Mas ter uma mulher em posição de liderança não resolve em si o problema de desigualdade de gênero da instituição. Ter diversidade é mais produtivo. Procuro sempre ter uma equipe bem balanceada entre mulheres e homens. Ter mulheres com olhar feminino e feminista é importantíssimo quando estamos tomando decisões estratégicas. Não é porque você chegou lá que o problema de desigualdade de gênero está resolvido."

ALESSANDRA OROFINO, diretora-executiva da Meu Rio, plataforma digital interativa que dá espaço para a população falar o que pensa diretamente para seus representantes políticos, blogueira da Folha no #AgoraÉQueSãoElas finalista do Prêmio Empreendedor Social de Futuro 2013.

Alessandra Orofino, empreendedora social


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