Folha de S. Paulo


Startups levantam R$ 5 milhões com nova plataforma de crowdfunding

Davi Ribeiro/Folhapress
SÃO PAULO, SP - 17/06/2014: Retrato de Frederico Rizzo, dono do Broota, que arrecadou R$ 200 mil por meio sistema
Frederico Rizzo, dono da Broota, que arrecadou R$ 200 mil por meio do sistema "equity crowdfunding"

Uma nova modalidade de crowdfunding levantou quase R$ 5 milhões em investimentos para startups no Brasil.

Plataforma de captação de recursos que funciona como uma "rede social", o Broota foi lançado pelo administrador Frederico Rizzo, em outubro de 2014.

"Faltava esse espaço na internet para o empreendedor se conectar com pessoas dispostas a investir", afirma o presidente e fundador do pioneiro serviço de investimento coletivo no Brasil.

Pessoas físicas podem investir a partir de R$ 1.000 e recebem como garantia um título de dívida conversível em ações, com prazo definido a cada captação.

O processo da oferta pública é regulado e autorizado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), por meio da instrução normativa 400.

Em pouco mais de um ano de funcionamento, o Broota capitalizou 17 startups, que captaram em média R$ 300 mil. Cada investidor aplica, em média, R$ 8 mil, em processos que duram 45 dias on-line.

Ou seja, o Broota conecta empreendedores que buscam capital e pessoas que desejam investir em negócios embrionários.

Startups lidam com a dificuldade natural de obtenção de crédito, como mostra a pesquisa "Empreendedores de Impacto".

O levantamento apontou que 67% das empresas jovens não possuem dívidas, sinal de limitação de acesso a recurso.

Atualmente, a plataforma conta com 3.200 investidores cadastrados. Pelo menos 400 deles já realizaram algum tipo de investimento pela rede.

Entre os potenciais investidores, Rizzo destaca dois principais tipos. "Temos um perfil mais investidor, que já está na bolsa [de ações], tem experiência e gosta de investir", explica.

E há também os iniciantes. "Eles não fazem [o crowdfunding] tanto pelo dinheiro, mas por verem ali uma forma de contato e pela importância que dão ao empreendedorismo."

Entre os entusiastas do terceiro setor que passaram a investir por meio do Broota está o administrador Fausto Caron. Diretor de banco, até então, ele só realizara investimentos financeiros.

Na plataforma ele viu a oportunidade de ter contato com empreendedores sem precisar deixar seu emprego. "Procuro empresas que tenham a ver comigo, pessoal e profissionalmente. Já realizei investimentos de R$ 5 mil a R$ 30 mil", relata Caron.

Ele conta ter se aproximado das startups nas quais investiu e ter se tornado até amigo dos empreendedores. "Formei também uma rede de contato com outros investidores que eu não tinha antes", diz.

Do outro do balcão, estão 3.016 startups, negócios e projetos sociais cadastrados. Oito deles estão captando neste momento.

É o caso de Fernando Assad, fundador do Programa Vivenda e vencedor do Prêmio Empreendedor Social de Futuro 2015.

O jovem empreendedor social vê crowdfunding de investidores como uma estratégia inovadora. "O Broota inova porque é de investimento", afirma. "Enquanto outras plataformas são de simples doação."

Na Lata
O empreendedor social, Fernando Assad, do Programa Vivenda, que atua na reforma de moradias populares, atuando frente a problemas de saúde, causados por habitações precárias
O empreendedor social Fernando Assad, do Programa Vivenda, que atua na reforma de moradias populares, atuando frente a problemas de saúde, causados por habitações precárias

O Vivenda, negócio social de Assad, oferece reforma de baixo custo e alto impacto social em favelas. A base do negócio é oferecer um serviço profissional para resolver problemas de saúde causados por habitações precárias.

"Nos últimos dois anos, trabalhamos bastante para refinar o modelo de negócios do Vivenda. Nossa estratégia para 2016 é ganhar eficiência e finalizar ajustes operacionais, para dar início à fase de expansão e ganho de escala", afirma o empreendedor social da Rede Folha.

IMPORTAÇÃO

O Broota se inspira em experiências americanas. Nos Estados Unidos, esse tipo de captação passou a ser permitida após uma lei especial ter sido aprovada em 2012, a JOBS Act, que desde então regula o mercado de pequenos negócios.

"As pessoas achavam que, no Brasil, isso não ia ser possível porque captar investimento pela internet é equivalente a uma oferta pública e, portanto, tem uma grande regulação do mercado de capitais da CVM ", diz Rizzo.

No entanto, segundo ele, a legislação nacional permitia que pequenas empresas tivessem ofertas públicas, mas faltava uma regulação.

Foi assim que em 2010, a CVM passou a permitir "equity crowdfunding", modelo de captação de recursos do Broota.

Ele explica que esse marco, com o acréscimo de um capítulo específico na instrução normativa 400, é um caminho mais simples para incentivar novos negócios.

"O Broota tem dois diferenciais. Não precisa de um intermediário, pois o contato é direto entre investidor e empreendedor, e tem a facilidade de registro."

A instrução normativa 400 define que podem participar do "equity crowdfunding" empresas com faturamento de até R$ 3,6 milhões no ano anterior à captação.

DIVERSIFICAÇÃO

A rede possibilita o investimento de valores menores que os usuais. O financiamento mínimo de R$ 1.000 permite tanto que –quase– qualquer pessoa invista como uma diversificação investimentos de grandes compradores.

Como boa porte desses negócios não dão certo, o investidor só vira sócio daqueles com excepcional performance, o que "evita a burocracia e o risco de uma sociedade prematura".

No caso de falência, o capital aplicado é perdido. "Os poucos [negócios] que costumam dar certo, compensam os que não dão", explica Rizzo.

EXPERIÊNCIA

Além de empresários e pessoas físicas, o Broota reúne grupos de financiamento liderados por investidores-anjo experientes. Chamados de "sindicatos", eles gerem a captação, com orientação para investidores e empreendedores.

Um exemplo é a Din4mo, consultoria especializada em negócios sociais e pioneira no "equity crowdfunding" voltado para o terceiro setor a operar no Brasil.

Marco Gorini, sócio-fundador da consultoria, aderiu ao Broota. A Din4mo estrutura a operação intermediada via plataforma para que seja aprovada pela CVM e prepara relatórios periódicos para facilitar o acompanhamento dos negócios pelos investidores.


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