Folha de S. Paulo


Instituto vai além dos muros da escola com música, arte e horta comunitária

Formado em música pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Lourivan Tavares, 37, é o "professor Pardal" das caravanas do Instituto Brasil Solidário (IBS).

Em suas oficinas país afora ele vem construindo orquestras de lata e ensinando crianças e monitores a tocarem instrumentos feitos de material reciclado, como chinelos, tubos e garrafas.

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Na passagem por Gentio do Ouro e Boquira, no sertão da Bahia, o professor fechou os três dias de imersão com uma apresentação de Beethoven por meninos do sertão tocando xilofone montado com pedaços de vidro e barbante, percussão com emendas de cano e "sinos" com garrafas d'água suspensas.

Louro, como é chamado, faz um balanço do trabalho de três anos no IBS: "Vejo como temos mudado a vida das pessoas e a nossa. Estamos deixando um legado."

E a música continua ecoando quando a trupe do instituto vai embora. A ideia é que professores, diretores, gestores e outros participantes das oficinas continuem o trabalho. No caso de Gentio do Ouro, o papel coube à auxiliar de serviços gerais Lethícia Lima, que, além de limpar a escola, passou a liderar 35 crianças de 4 a 15 anos na banda de lata Batucarte.

"Criamos a banda, mas não temos espaço para ensaiar. A gente ensaia, então, na frente da minha casa, na rua, sob sol ou chuva", conta Letícia. E se apresentam em eventos no município carente de atividades culturais. "O trabalho do IBS afeta a cidade inteira. Eles nos deram conhecimento para transformar a nossa realidade."

A "regente" da orquestra de lata incorporou o lema do IBS "Juntos Construímos". O objetivo maior da ação do instituto é empoderar os mais diferentes agentes sociais em prol da educação e, em especial, por realizar esse trabalho em municípios de baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).

Fundado em 2005, o instituto já capacitou 12.686 educadores por meio do PDE (Programa de Desenvolvimento da Educação).

Professores são os principais protagonistas na produção de conteúdo, como a criação do fantoche Sarapatel, estrela do recreio na escola municipal Luiz Viana Filho, em Irecê (BA). Usado para tratar de forma lúdica questões de saúde e sexualidade, por exemplo, o boneco já chamou atenção de educadores norte-americanos.

Situadas em áreas rurais ou em periferias, as "ilhas de desenvolvimento" desenhadas pelo IBS no interior do Brasil chegou às Malvinas, comunidade na periferia de Irecê, assim chamada em alusão à Guerra das Malvinas, devido à violência.

A transformação do bairro, antes estigmatizado, passou pela escola municipal, que hoje é exemplo na rede.

"Com ajuda do IBS, criamos biblioteca e integramos a escola aos principais agentes do bairro. Trouxemos a comunidade para a escola", diz o diretor Cristiano Rocha. Ele viu o desempenho da Luiz Viana Filho melhorar de 2,6 para 3,6 no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).

O IBS abre ainda novas frentes, como o Learning Journey, programa desenvolvido com colégios particulares de São Paulo para levar alunos a conhecerem o Brasil profundo. "As ações do IBS são bem diferentes de tudo o que eu tinha feito. É ouvir, entender a necessidade e fazer diferença na vida das pessoas", diz Mariana Mendes, 18, que esteve em Palmeiras, Vale do Capão e Tejuco, no sertão baiano.

Na cidade ou no campo, com soluções testadas para municípios com menos de 100 mil habitantes, o IBS continua redescobrindo o Brasil.


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