Folha de S. Paulo


Vivenda atende clientela de favelas esquecida por governo e empresas

Com o lema de oferecer reforma de baixo custo e alto impacto, o Programa Vivenda realizou 134 projetos no último ano e meio em favelas da Zona Sul de São Paulo.

"As políticas públicas não operam com melhorias, apenas com construção", analisa Fernando Assad, 32, sócio do negócio social que nasceu para atender uma clientela esquecida pelo governo e pela iniciativa privada.

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É o caso do segurança Antônio Menezes da Silva, 51, que contratou a Vivenda para reformar o seu banheiro. "O piso era de cimento, gelado. O chuveiro tinha um fio exposto que minha mulher falava que dava choque", relata. "Agora tenho um banheiro digno."

Satisfeito com o resultado e com o preço (R$ 900), Silva contratou de novo a Vivenda para fazer melhorias na cozinha. Ele acompanha de perto o trabalho do pedreiro e do ajudante destacados para tocar a obra a ser concluída em tempo recorde. Cinco dias é o que dura, em média, as empreitadas de Assad e companhia.

"Na favela, é difícil ter o material, encontrar a mão de obra", reconhece o pedreiro Mauro Simão Dias, que antes de trabalhar na Vivenda, raramente pegava reforma na região. "O mesmo serviço que faço no Morumbi, faço aqui", diz ele, referindo-se ao bairro nobre, onde antes costumava ser contratado.

Taís Genovez, 21, estagiária de arquitetura, também é uma novidade na favela. "Aqui ninguém conhece quem projetou a casa", diz a estudante da USP. "Arquiteto é coisa de novela."

Na vida real, ela lida com todo o tipo de carência na hora de avaliar os cômodos mais necessitados de reforma e o perfil de seus donos.

Tarefa que desempenha ao lado de uma assistente social. Elas analisam a parte técnica e também as chamadas patologias habitacionais, que originaram os kits de reforma oferecidos pela Vivenda: banheiro, antiumidade, ventilação e revestimento.

A manicure Maria Aurineide de Oliveira, 46, quer se livrar do mofo das paredes da sala da casinha que foi ajeitando aos poucos na favela da Erundina, onde mora há 18 anos, vinda do Ceará.

Está na fila para conseguir mais um empréstimo do Banco Pérola e assim poder contratar a Vivenda para reforma a sala, a exemplo do que fez no banheiro. "Acabei de pagar a última prestação. Se não fosse em 12 meses em não teria conseguido reformar", festeja ela, beneficiada pelo sistema de microcrédito, com juros mais baixos, que lhe permitiram bancar a primeira reforma de cerca de R$ 2.500.

"Minha casa é meu porto seguro, por isso tento deixar aconchegante, limpa e organizada", diz ela, sentada no sofá de forros de fuxico e cercada de imagens de santos e mandalas pintadas pela filha.

Seu cantinho é um cartão de visitas da Vivenda. "Nosso objetivo é levar dignidade para os moradores da favela", diz Assad. "É uma mudança que vem de dentro."


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