Folha de S. Paulo


Tecnologias sociais com potencial de política pública são premiadas no DF

Seis estratégias de soluções para desafios sociais de comunidades brasileiras foram laureadas na 8ª edição do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social. Ao total, R$ 600 mil foram entregues para as iniciativas, em cerimônia na noite da última terça-feira (10), em Brasília.

Realizado a cada dois anos, o prêmio busca identificar tecnologias sociais que promovam o envolvimento da comunidade, transformação social efetiva e possibilidade de serem reaplicadas, implementadas em âmbito local, regional ou nacional por meio, principalmente, de políticas públicas.

Divulgação/Fundação Banco do Brasil
Representantes das tecnologias sociais premiadas pela Fundação Banco do Brasil
Representantes das tecnologias sociais premiadas pela Fundação Banco do Brasil

Os vencedores receberam R$ 50 mil cada para serem investidos em seus projetos. Outros 12 finalistas garantiram R$ 25 mil cada. Eles foram selecionados entre 866 projetos de todo o país.

No Complexo da Maré, o maior conjunto de favelas do Rio de Janeiro, nasceu o Censo da Maré, que faz levantamentos cartográficos, econômicos e demográficos das comunidades, e premiado na categoria "Meio Urbano".

A tecnologia social foi desenvolvida pela Redes de Desenvolvimento da Maré, organização não-governamental fundada pela líder comunitária e intelectual Eliana Sousa Silva, finalista do Prêmio Empreendedor Social de 2015.

Segundo Dálcio Marinho, 45, coordenador do censo, a ferramenta nasceu na invisibilidade do complexo no contexto da cidade. "A Maré é o 9º bairro mais populoso, mas no índice de desenvolvimento social ocupa a 157º posição. É invisível para as políticas sociais", diz.

Em quatro anos, foram desenvolvidos três projetos: o guia de ruas, que possibilitou a identificação de mais de 100 logradouros sem nomes, o censo de empreendimentos econômicos, que mapeou e identificou os comércios, e o censo populacional, que buscou conhecer as características da população.

"[Sem um endereço formal], os moradores tinham que dar uma referência para as pessoas chegassem em suas casas. Hoje, esses dados já são utilizados pelos agentes de saúde, escolas, igrejas e polícia", conta Marinho.

Na categoria Universidades e Instituições de Ensino e Pesquisa, a tecnologia vencedora foi o Librário da UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais).

Ela propícia a aproximação de ouvintes e surdos no ambiente escolar por meio um jogo de baralho com sinais da Libra, palavras em português e imagens.

Também foi premiada a tecnologia Pirambu Digital, na categoria Juventude. O projeto do Ceará, tem como objetivo capacitar profissionalmente os jovens da região, realizar atividades que possibilitem o crescimento tecnológico, cultural, social e econômico do seu entorno social.

SOLUÇÕES HÍDRICAS

Do Rio Grande do Norte, a tecnologia "Água Viva", vencedora da categoria Mulheres, reaproveita a água utilizada em atividades domésticas, como lavagem de louça e roupa, para regar plantações.

A iniciativa elaborada pelo Centro Feminista 8 de Março nasceu pelo contexto de estiagem do semiárido da região de Upanema. A água captada passa por uma filtragem antes de ser liberada para irrigação de frutas e hortaliças agroecológicas.

"Isso tem trazido autoestima e reconhecimento para as mulheres do assentamento Monte Alegre I", conta Ivi Dantas, 34, assessora técnica do projeto. "Elas perceberam que precisavam se reorganizar e melhorar suas atividades produtivas para serem reconhecidas como agricultoras", completa.

Já no quesito "Agricultores Familiares e Assentados da Reforma Agrária", a iniciativa vendedora foi o Sistema de Acesso à Água Pluvial para Consumo de Comunidades, da Asproc (Associação de Produtores Rurais de Carauari).

Com objetivo de combater a ausência de saneamento básico e de água potável para o consumo humano em comunidades ribeirinhas da Amazônia, a Asproc desenvolveu uma tecnologia social que capta água da chuva, por meio dos telhados das casas e construiu unidades sanitárias domiciliar com dispositivo de tratamento.

A tecnologia Água Limpa, da Prefeitura de Caxias do Sul (RS), venceu na categoria Gestores Públicos. O programa governamental visa despertar a importância do saneamento básico nas propriedades rurais da cidade.

A Água Limpa oferece abastecimento da população rural com água potável por meio de recuperação de vertentes e poços artesanais, destino adequado das águas servidas com instalação de sistema de esgotamento sanitário; utilização eficiente de dejetos de animais e campanha de recolhimento de embalagens de agrotóxicos vazias.

CERTIFICADAS

Das 866 inscrições recebidas, 154 tecnologias foram certificadas pela Fundação Banco do Brasil.

Eles passaram a integrar o BTS (Banco de Tecnologias Sociais), da Fundação Banco do Brasil, que agora totaliza 850 iniciativas.

Em 2014, a fundação aplicou R$ 296,4 milhões em tecnologias sociais, quase o dobro dos R$ 173,7 milhões de 2013. Em 2015, a estimativa é que R$ 135 milhões sejam investidos.

A queda, justifica a fundação, é devido ao alto investimento feito na construção de 80 mil cisternas, iniciativa parte do Programa Água para Todos, do Governo Federal, destinada ao semiárido. A tecnologia social foi uma das finalistas do prêmio, em 2001, e ao ganhar visibilidade virou política pública federal.

"Em tempos de crise, é muito importante [destacar] esses tipos de projetos, que envolvem as comunidades locais", diz José Caetano Minchillo, presidente da Fundação Banco do Brasil. "Essas tecnologias sociais trazem riqueza, são mais baratas, aquecem a economia local e resolvem as questões sociais", completa.

A repórter OLÍVIA FREITAS viajou a convite da Fundação Banco do Brasil


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