Folha de S. Paulo


Brasil perde 15 posições em ranking mundial da solidariedade

O Brasil caiu 15 posições no World Giving Index 2015, ranking mundial de solidariedade, e ocupa agora a 105ª colocação de um total de 145. É a primeira vez que o país não figura entre os top cem e está atrás de nações como Quênia (11º) e Bolívia (65º).

Em queda desde 2009, primeiro ano do levantamento do CAF (Charities Aid Foundation), o Brasil já perdeu 29 posições quando conquistou sua melhor colocação, 76º. O relatório é referente ao ano de 2014.

Isadora Brant/Folhapress
Brasileiros apresentaram melhor performance no quesito de ajudar um desconhecido, ato realizado por 41% da população em 2014
Brasileiros apresentaram melhor performance no quesito "ajudar um desconhecido", ato realizado por 41% da população em 2014

Arte: Patricia Pamplona

"Acredito [que a queda no ranking] já seja um reflexo da crise", afirma a presidente do Idis (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social), Paula Fabiani, responsável pela divulgação do estudo no Brasil. "Nesse momento, a pessoa começa a pensar mais em si."

Segundo ela, além de o indicador brasileiro ter baixado, houve uma ascensão de outros países, além da entrada de novas nações. "Quase todos na América do Sul pioraram, o que mostra um efeito regional. Dentre eles, o Brasil ainda foi que menos caiu", diz Fabiani.

Arte: Patricia Pamplona

Arte: Patricia Pamplona

TEMPO E DINHEIRO

Para chegar a uma média final, o estudo leva em conta três fatores: a proporção de pessoas que doaram dinheiro, que se voluntariaram e que ajudaram um desconhecido no mês anterior ao questionamento.

O brasileiro se destaca no último quesito, em que 41% da população auxiliou alguém com quem não se relacionava. "Essa é uma doação mais momentânea, impulsiva", afirma Fabiani, em comparação ao tempo e dinheiro, que exigem planejamento.

Arte: Patricia Pamplona

CULTURA DA SOLIDARIEDADE

Fabiani explica que o nível de doações realizados em um país está muito mais ligado à cultura que à riqueza. "Países anglo-saxões têm uma melhor performance porque há o costume de um engajamento maior do indivíduo", explica.

É o exemplo de Mianmar, país asiático com PIB per capita de US$ 1.200 e colonização britânica, que conquistou o primeiro lugar. O resultado foi impulsionado pela forte cultura budista, mas a conquista contrasta com a situação difícil do povo rohingya, que tem cidadania e o direito de possuir terra ou propriedade negados pelo governo.

Para o Brasil subir no ranking, de acordo com a presidente do Idis, é preciso inserir a solidariedade no cotidiano. "O voluntariado não faz parte da conversa na família, no trabalho do brasileiro."

Arte: Patricia Pamplona


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