Folha de S. Paulo


Investimentos em negócios de impacto social devem quadruplicar em 2020

Os investimentos em negócios de impacto social devem quadruplicar nos próximos cinco anos, saltando de R$ 13 bilhões em 2014 para R$ 50 bilhões anuais a partir de 2020.

A projeção sobre a oferta de capital para o setor foi elaborada pela Força Tarefa Brasileira de Finanças Sociais, em parceria com a Deloitte.

A Força Tarefa é formada por nomes de diversos setores da economia, entre eles André Degenszajn (financeiro), Fabio Barbosa (financeiro), Maria Alice Setúbal (terceiro setor) e Antonio Ermírio de Moraes Neto (financeiro), representante brasileiro no Grupo de Gestão Global de Investimento de Impacto Social (Global Steering Group on Social Impact Investment, GSGSII), formado no âmbito dos países do G20.

Segundo o estudo, o valor investido em 2014 representa apenas 3% dos R$ 456,8 bilhões, entre recursos públicos e privados, disponíveis para finanças sociais.

No montante estão inclusos investimentos de governo, organismos nacionais de fomento, organismos multilaterais de crédito, pessoa jurídica, instituições de finanças comunitárias, fundações e associações, além de pessoa física.

De acordo com Célia Cruz, diretoria-executiva da Força Tarefa Brasileira de Finanças Sociais, será preciso quatro grandes ações simultâneas para fazer crescer os negócios de impacto social no país.

"É preciso ao mesmo tempo ampliar a oferta de capital, aumentar o número de negócios de impacto qualificados e escaláveis, fortalecer organizações intermediárias, como aceleradoras, e criar um macro ambiente favorável às finanças sociais", elenca Célia.

Numa projeção dos maiores investidores do setor a partir 2020, pessoas jurídicas vão responder com R$ 41,9 bilhões, governo com R$ 4,1 bilhões e organismos multilaterais de crédito com R$ 2,5 bilhões. Os organismos nacionais de fomento, fundações e associações e pessoas físicas somarão R$ 1,5 bilhão.

"É um movimento de mais pessoas físicas, fundações e famílias entendendo que podem atrelar impacto na sua agenda de investimento", diz Célia, referindo-se a potenciais investidores que hoje atuam mais como filantropos do que com agentes que possam fomentar o impacto social.

O grande crescimento de investimento de pessoa jurídica, que deve saltar de R$ 12,3 bilhões para R$ 41,9 bilhões em seis anos, virá do microcrédito e de fundos de investimentos de impacto. "[Esse setor] ainda vai crescer bastante", diz Célia.

Já a participação dos governos, nos três níveis, deve sair do zero para os R$ 4,1 bilhões até 2020, com recurso advindo da criação de modelos para a inclusão de negócios de impacto social nas compras governamentais.

O estudo mostra ainda que no Brasil os negócios sociais de impacto em expansão estão especialmente nas áreas de saúde e educação.

As duas estão também entre as áreas que devem atrair mais investimentos, ao lado de microfinanças e habitação.

E para atrair investidores o discurso também ajuda. O raciocínio é: "melhor escolher um fundo que vai investir em uma empresa tradicional ou em outro que investe em um negócio que está melhorando a vida de comunidades de baixa renda". A segunda opção, salienta Célia, é mais atrativa.

Afinal, para ser considerado um negócio social de impacto é preciso oferecer soluções inovadoras e escaláveis para problemas que afligem as faixas C, D e E da população.

RECOMENDAÇÕES

De acordo com o estudo, para alcançar os estimados R$ 50 bilhões em investimentos, é preciso mais envolvimento de governos, empreendedores, empresários, investidores e organizações da sociedade civil, entre outros, na implementação de uma ampla agenda de mudanças.

Para que os potenciais R$ 50 bilhões sejam viabilizados nos próximo anos, a Força Tarefa listou 15 recomendações necessárias, entre elas estão: investimento de indivíduos de alta renda em produtos financeiros de impacto; uso do subcrédito social do BNDES para negócios de impacto; inclusão de negócios de impacto na cadeia de valor das empresas; criação de modelos para inclusão de negócios de impacto nas compras governamentais; e apoio do Sebrae aos empreendedores de negócio de impacto, entre outras.

Nesta quarta-feira (14), em São Paulo, a Força Tarefa reúne especialistas e imprensa para apresentar as recomendações, que sintetizam mais de um ano de estudos.


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