Folha de S. Paulo


Jovens ganham título inédito para o Brasil em torneio de ensino técnico

Depois de ser ouro em tecnologia automotiva na etapa estadual da Olimpíada do Conhecimento do Senai, em 2013, Luis Machado Júnior, 20, repetiu o feito contra os maiores profissionais da área do mundo na WorldSkills e ainda foi o maior pontuador da competição.

As 27 medalhas conquistadas fizeram do Brasil o grande campeão do WorldSkills, resultado inédito, justamente na edição realizada pela primeira vez na América Latina, no Parque Anhembi, em São Paulo.

"A minha ideia era só a de ganhar a medalha. A ficha ainda não caiu", afirma o jovem. Formado tecnólogo em manutenção automotiva, em 2010, no ano anterior fez o curso de aprendizagem industrial em mecânica de automóveis. "Fazia alguns bicos em oficinas particulares, mas há três anos e meio, me dedico exclusivamente à competição", conta.

Luis levou o ouro e o Prêmio Albert Vidal, que reconhece o maior pontuador da competição e pela primeira vez conquistado por um brasileiro. Com ele, a delegação somou 11 medalhas de ouro, dez de prata, seis de bronze e 18 certificados de excelência –que equivalem ao 4º lugar. Isso levou o Brasil ao primeiro lugar geral, sendo o melhor resultado já obtido.

O maior adversário dos brasileiros, a Coreia do Sul, ficou em segundo lugar. O chefe da equipe Marcelo Mendonça achava que o Brasil seria o vice justamente por causa do país asiático. "Acreditava no desempenho fantástico por toda a preparação", afirma. Ele atribui a conquista ao treinamento de um ano, que deixou os competidores "mais seguros e capacitados".

MEDALHISTAS

Ainda no setor mecânico, Eduardo Kruczkievicz, 19, levou a prata em tornearia a CNC (Comando Numérico Computadorizado). Com a profissão mais moderna que o ex-presidente Lula perdeu o dedo em um acidente de trabalho, em 1963, um quarto do ofício é feito através do computador e o maquinário possui um dispositivo de segurança.

Catarinense, Kruczkievicz fez curso de aprendizagem industrial em torneamento e frisamento aos 14 anos. "Meu primo me indicou o curso e tem vários mecânicos na família", conta. A partir de agora, pretende focar a programação, mesma área que levou Kenji Shimora, 22, a competir em webdesign e ganhar o ouro.

Apesar da dedicação, Shimora via a Coreia do Sul, Macau e Colômbia como grandes adversários por estarem muito bem preparados. "Na competição, tem que fazer o trabalho de dois, que é programar e desenhar a interface", afirma.

Quem também se preparou e estava confiante foi o gaúcho Ricardo Dornelles, 22. Ele ganhou a medalha de bronze em cozinha profissional. "Foi muito puxado. No último dia, tínhamos oito horas para preparar dois tipos de entrada, um prato principal e uma sobremesa", lembra.

NO FUTURO

Mendonça afirma que a consequência do título será a facilidade de se inserir no mercado de trabalho. "Eles estão muito bem formados e atendem requisitos internacionais de qualidade", diz.

Para o ensino técnico no Brasil, Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), diz que é preciso aumentar a abrangência, pois apenas 8% dos jovens fazem educação profissionalizante junto da tradicional, ao contrário da média de 50% dos países desenvolvidos.

"Vamos incentivar iniciativas semelhantes ao Pronatec, do governo federal, e ao programa do Estado de São Paulo", afirma. Segundo a presidente Dilma Rousseff divulgou em seu perfil no Facebook, 25 das 27 medalhas conquistadas foram de alunos do Pronatec.

Segundo a assessoria do Senai, dos 56 competidores, 47 foram ou são bolsistas do programa, sendo 24 medalhistas.


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