Folha de S. Paulo


Após prêmio, jovens empreendedores se consolidam e ampliam impacto

Consolidados como empreendedores, após vencerem o Prêmio Empreendedor Social de Futuro, nove jovens empreendedores comemoram os avanços que suas organizações tiveram nos últimos cinco anos. Eles conseguiram estruturar suas organizações, tornando-as sustentáveis, além de ampliar o impacto social para outras regiões, beneficiando e empregando mais pessoas por meio de novas parcerias e investimentos.

David Hertz, 41, buscava um rumo para sua vida quando, em uma viagem à Tailândia, encontrou a gastronomia. Mas foi na favela do Jaguaré, em São Paulo, que sua busca foi encerrada quando uniu a profissão ao social com um curso para jovens locais. Em 2009, sua busca começaria a ser reconhecida com o primeiro Prêmio Empreendedor Social de Futuro. A partir daquele momento, seu projeto, o Gastromotiva, se consolidou e ganhou novos rumos.

"Minha atitude como empreendedor mudou muito. Consegui aumentar minha visão sobre o todo. Vi o tamanho do impacto não só da Gastromotiva, mas da minha posição como empreendedor social, líder e chef", diz Hertz.

O fundador da Gastromotiva conta que a premiação abriu outras portas, como a participação no Fórum Econômico Mundial, que permitiu à organização crescer e se firmar, principalmente pelo momento inicial que vivia. Com a expansão dos negócios, empoderou mais pessoas com os cursos de gastronomia e ampliou a equipe de trabalho, passando a focar seus esforços na articulação e gestão. Além disso, engatou iniciativas com outros empreendedores da Rede Folha.

Wagner Gomes, 32, contrariou a ordem do êxodo rural nordestino, quando, em 2003, se formou em economia na Universidade Federal do Ceará e voltou ao campo, em 2007, para fundar a Adel (Agência de Desenvolvimento Econômico) ao lado de filhos de agricultores locais.

Três anos depois, ele estava em São Paulo para ser reconhecido como um empreendedor de futuro. Mas as conquistas e os prêmios não pararam por aí. "Vencemos outros prêmios nacionais e internacionais. Além disso, quadruplicamos a nossa equipe e as nossas ações no semiárido ceareanse", conta.

A Adel atende atualmente mais de 800 agricultores familiares e 600 jovens rurais. "Hoje, consigo ver o empreendedorismo social como um instrumento muito dinâmico e poderoso para transformação social do Brasil", afirma.

Henrique Saraiva, 35, Luana, 30, e Luiz Nobre, 36, passavam um momento de insegurança em 2011, quando a ONG que fundaram, o Adaptsurf –que promove inclusão de pessoas com deficiência por meio do surfe– ganhou o prêmio. Com dois anos de fundação à época, a principal dificuldade era conseguir patrocínio para o projeto que eles vinham tocando de forma voluntária.

Uma das maiores inspirações para os dois professores de educação física Luana e Luiz, que são casados, montarem o projeto foi Henrique. Ele, que cuida de toda a parte administrativa da ONG, sofreu um roubo, quando tinha 18 anos e levou um tiro, deixando-o por seis meses em uma cadeira de rodas.

"Com o prêmio, recebemos um relatório completo da nossa organização e a soubemos o que estávamos fazendo certo e errado. Traçamos novos caminhos na gestão", diz Luiz Nobre. Com a divulgação do Adaptsurf, eles conseguiram um novo patrocínio que permitiu ampliar a renda e o projeto.

Fernando Botelho, 44, perdeu a visão na adolescência, mas isso não impediu que ele se formasse em sociologia e fizesse mestrado em relações internacionais no exterior. Também morou em sete países. E foi em um deles, na Suíça, que teve a ideia de montar a F123 –negócio social que utiliza um software livre para inclusão digital, social e profissional de pessoas com baixa visão ou cegas. Fernando foi o vencedor do prêmio em 2012.

Assim como no caso do Adaptsurf, Botelho passava por uma situação difícil com a fundação, que tinha dois anos quando venceu o prêmio. "Para nós, teve importância valiosíssima devido ao momento, é possível que mais do que para os empreendedores sociais", conta. Ele destaca que conseguiu três pontos fundamentais: novas oportunidades de financiamento e apoio, parcerias e atingir novos usuários.

Alexandre Amorim, 24, diretor de projetos e fundador da Asid (Associação Social para Igualdade das Diferenças) ao lado de seus colegas de faculdade Diego Tutumi Moreira, 25, e Luiz Hamilton Ribas, 25, foram vencedores em 2013.

A Asid nasceu como um trabalho de faculdade, em 2010, e vingou com a entrada de Tutumi ao grupo. A associação criou um método de avaliação exclusivo para escolas e instituições que trabalham com pessoas especiais.

"Tivemos um crescimento muito grande nesse tempo [10 meses após o prêmio]. A chancela da Folha foi essencial para o nosso crescimento. Antes, atendíamos 15 escolas e instituições e vamos fechar este ano com 47", revela Amorim. A associação também rompeu as fronteiras de Curitiba e agora atua em quatro cidades do Paraná, em uma cidade em São Paulo e outra em Santa Catarina. Antes do prêmio, tinham quatro investidores; hoje, têm nove.

O PRÊMIO
No Brasil, a fase mais crítica e sensível de qualquer organização é entre um e três anos. A falta de sustentabilidade financeira e de gestão estruturada leva muitas a fecharem as portas dentro desse período. Pensando em fomentar e impulsionar esses jovens líderes socioambientais inovadores, a Folha criou, em 2009, o Prêmio Empreendedor Social de Futuro.

Neste ano, a premiação, que é voltada a empreendedores de 18 a 35 anos e que tenham projetos que beneficiem pessoas em situação de risco social ou ambiental, vai para a sua 6ª edição, enquanto o Prêmio Empreendedor Social completa uma década. Durante esse período, nove empreendedores de cinco projetos foram reconhecidos, premiados, fomentados e receberam a chancela conferida pela Folha.

Com visibilidade, cursos e consultorias oferecidos pelo jornal e por parceiros, os vencedores conseguiram estruturar suas organizações, tornando-as sustentáveis, e passando os cruciais três anos iniciais.


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