Folha de S. Paulo


Reitor da USP rebate críticas e diz que não apoia nenhum candidato ao cargo

Para o reitor da USP, Marco Antonio Zago, a universidade pode servir como um exemplo de gestão pública responsável caso siga as regras de sustentabilidade financeira aprovadas neste ano. O documento estipulou limite de comprometimento com folha de pagamento da ordem de 80% dos repasses do Tesouro estadual –nos últimos anos, esse índice esteve em 100% ou acima dele.

A candidatura de seu vice, Vahan Agopyan, para novo reitor é vista como uma continuidade natural da sua gestão. Zago afirma que, oficialmente, não apoia nenhuma chapa.

A candidata de oposição Maria Arminda, entretanto, acusa a reitoria de alterar texto sobre a consulta interna no site da USP para favorecer Agopyan. O texto foi de fato alterado, diz Zago, mas com uma justificativa técnica: "a consulta é um evento que sinaliza qual a preferência de cada setor na comunidade acadêmica".

Diego Padgurschi - 14.jul.17/Folhapress
Reitor da USP, Marco Antonio Zago, nega favorecimento à candidato e defende novas regras financeiras
Reitor da USP, Marco Antonio Zago, nega favorecimento à candidato e defende novas regras financeiras

*

Folha - Qual é o volume atual de recurso na reserva da USP (usada para cobrir o déficit provocado com os gastos com a folha de pagamento)?

Marco Antonio Zago - A Comissão de Orçamento e Patrimônio da Universidade estimou que a reserva financeira chegaria a R$ 96 milhões em dezembro 2017. A redução significativa dos gastos com pessoal e o aumento da arrecadação, projetado pelos analistas para os próximos meses, e já em curso, é uma garantia de cenário mais favorável.

Nos cálculos da atual gestão, esse recurso é suficiente para a manutenção da USP no ritmo atual dos repasses do Tesouro?

A aplicação de uma gestão responsável, redução de gastos com construções, contratos e principalmente enxugamento da máquina administrativa fez baixar o comprometimento com gastos de pessoal de 105% quando assumimos em 2014, para 90% nos meses de setembro e outubro de 2017. Atingimos, pois o equilíbrio financeiro. Com isto, as reservas financeiras (hoje entre R$ 600 e 700 milhões) devem ser utilizadas apenas para complementar os recursos para o pagamento do décimo terceiro salário de nossos servidores nos próximos anos.
Se as regras de sustentabilidade financeira aprovadas no presente ano forem adequadamente aplicadas no futuro, a USP servirá de exemplo de gestão pública responsável, e mostrará que faz jus à autonomia de que goza.

Nesse processo eleitoral, algumas propostas de candidatos se repetem com relação à última eleição, como combate à evasão, melhoria nos cursos de graduação, cursos em inglês. O que a atual gestão pode citar de ações com relação a esses temas?

Esses temas se repetem porque são demandas constantes dos alunos que recebemos e continuarão a existir.

Com relação à evasão, houve aumento dos investimentos em permanência estudantil. O número de auxílios-moradia aos alunos carentes saltou de 2.480 em 2013, para mais de 6.000 em 2017.
Mas a evasão tem um componente relacionado aos conteúdos. Houve um esforço da melhoria do ensino de graduação em três linhas: concessão de autonomia às unidades para adaptarem seus currículos com desburocratização; os Centros de Aperfeiçoamento Didáticos, que oferecem atualização didática e pedagógica aos docentes; os Congressos de Graduação, ambientes de compartilhamento de experiências e inovações no ensino; por exemplo a Revista Grad+ e o Programa de Incentivo à Produção de Livros Didáticos, são ações que decorreram dessas iniciativas.

Merecem especial destaque certas mudanças simples mas muito efetivas. Por exemplo, um curso de licenciatura da EACH [Escola de Artes, Ciências e Humanidades] que tinha 120 vagas que não chegavam a ser preenchidas, por falta de demanda. Dessas, 60 vagas foram transformadas em um curso de biotecnologia, sem aumento de despesas para a USP. Resultado: há 8 candidatos por vaga no vestibular deste ano.
Maiores detalhamentos acerca das ações relacionadas a esses temas podem ser consultadas no relatório disponível neste link: http://www.reitoria.usp.br/wp-content/uploads/USP_VOL2_UNIFICADO.pdf.

O sucesso de nosso programa de internacionalização pode ser medido objetivamente pelo grande aumento das publicações de pesquisadores da USP em co-autoria com pesquisadores estrangeiros, e o grande aumento de alunos de intercâmbio da USP e para a USP, além da ampliação em mais de 5 vezes do ensino de língua inglesa.

A atual gestão apoia alguma candidatura?

O processo eleitoral na universidade é peculiar. Ele é um instrumento de escolha de propostas e não de embate político entre situação e oposição, como nas eleições na sociedade. Por exemplo, fui eleito em 2014 com base em propostas que cumpri. Como reitor minha função é conduzir o processo nos termos do estatuto e apoiado por uma comissão eleitoral. Em respeito aos eleitores e aos candidatos não é razoável que eu me manifeste sobre um novo momento institucional da USP, estando no final do meu mandato e tendo realizado os programas para os quais fui eleito e superado os desafios que se apresentaram.

A candidatura da professora Maria Arminda reclama que publicação no site da USP teve texto editado, de modo a favorecer a leitura de que a candidatura de Vahan Agopyan [atual vice-reitor] teve melhor desempenho entre docentes, em detrimento da visão de que a chapa 2 recebeu maior volume total. Como a reitoria encara o posicionamento da professora?

Desde 2013 o Conselho Universitário decidiu que a consulta "será estratificada segundo as categorias funcionais da universidade, apurando-se em separado os votos de docentes, funcionários e estudantes" (artigo 2º da Resolução n. 6638/2013).

A decisão tem uma razão técnica: é errado totalizar votos para aferir um comportamento do todo a partir de amostras de categorias sem a devida proporcionalidade. Temos cerca de 75.000 alunos, 13.000 servidores e 6.000 docentes, e tivemos índices diversos de participação na consulta (48,1% dos docentes, 27,4%dos funcionários e 3,7% dos discentes). Além disso, a consulta é um evento que sinaliza qual a preferência de cada setor na comunidade acadêmica.

A consulta não é uma pré-eleição. Usa métodos e abordagens diferentes, focados em identificar a preferência de cada categoria que compõe a comunidade da USP.

O texto inicialmente divulgado estava em desacordo com o que estipula a norma no estatuto, incidindo exatamente naquele erro que o Conselho Universitário determinou que fosse evitado. A comunicação encaminhada à comunidade pela comissão eleitoral seguiu o que a norma prevê, inclusive com o conhecimento dos candidatos, destacando os mais votados em cada uma das categorias.


Endereço da página:

Links no texto: