Nem o tempo inteiro em sala de aula, nem o tempo todo fora dela. Cresce no Brasil a oferta do ensino híbrido, formato em que o estudante de graduação presencial pode ter até 20% da carga horária total do curso cumprida na modalidade a distância.
O crescimento se dá por causa da portaria 1.134, publicada pelo Ministério da Educação em outubro de 2016. O texto atualiza um anterior, de 2004, e facilita a inserção do ensino não presencial.
"Antes, era preciso que a universidade tivesse o curso reconhecido leva dois anos após o início da oferta] para inserir os 20% da grade a distância. Agora, se a instituição já tem cursos reconhecidos, pode criar novos e já começar a oferta no modelo híbrido", diz Carlos Longo, diretor da Associação Brasileira de Educação a Distância.
Para o especialista, a alteração mostra que o Brasil começa a trilhar o rumo dos países mais avançados em educação, além de atender a peculiaridades do próprio público. "O estudante dos primeiros semestres de graduação nasceu com a internet e, para ele, o uso da tecnologia é quase óbvio.", diz.
Henrique Neto Alves, 19, começou no início deste ano o curso de administração na Universidade São Judas Tadeu, em São Paulo. Logo no início, descobriu que três de suas disciplinas seriam no formato semipresencial: em uma semana a aula acontece no campus e, na seguinte, é feita a distância.
"É um estímulo para que a gente tenha mais autonomia de estudo, além de nos ajudar no preparo para o mundo corporativo, que cada vez mais incorpora o trabalho remoto", afirma. É a primeira vez que ele tem uma experiência de ensino formal fora da sala de aula.
A Universidade São Judas oferece disciplinas híbridas para calouros de 28 cursos. No total, mais de 5.000 alunos participam do modelo conhecido como sala de aula invertida, em que primeiro o estudante apreende o conteúdo por meio de fóruns, videoaulas, livros em PDF e mídias interativas e depois leva dúvidas e discussões a encontros presenciais.
"No ano passado, testamos com uma turma-piloto ao mesmo tempo em que formávamos professores. É um modelo novo e desafiador", afirma Mairlos Navarro, responsável pelo núcleo de educação a distância da instituição.
Na implementação do ensino híbrido, a tecnologia é o investimento mais barato e rápido. O maior desafio é mudar a cabeça dos docente para uma realidade em que o aluno depende cada vez menos do professor como repassador de conteúdo. Ele passa a ser um coach que estimula os estudantes e os orienta a buscar os caminhos.
"O professor precisa parar de achar que é o dono do conhecimento", diz o reitor da Universidade Anhembi Morumbi, Paolo Tommasini, onde as disciplinas EaD fazem parte do currículo de todos os cursos de graduação.
GESTÃO DO TEMPO
O fim da supremacia da aula expositiva deve alcançar todos os cursos e instituições. Na Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas, disciplinas como direito imobiliário e gestão de pessoas já são oferecidas no formato EaD.
"Isso atende à necessidade de nossos alunos gerenciarem o próprio tempo de aprendizagem", afirma Cristina Alves, coordenadora de ensino da unidade. "Quando ele está em intercâmbio, não precisa perder o contato com a escola. A mobilidade é um incentivo à formação.
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Ferramentas usadas na educação a distância
Ambientes virtuais de aprendizagem (AVA)
Páginas on-line que o aluno acessa por meio de uma senha para assistir as aulas, realizar atividades e ter acesso a conteúdos
Vídeo e audioconferência
Permite o contato entre alunos e professores em tempo real. Normalmente, as atividades seguem um calendário da instituição
Chats e fóruns
Chats são usados para discussão em tempo real, com mediação. Já os fóruns não costumam acontecer em tempo real: há um prazo para postagem
Teleaula
É dada ao vivo pelo professor, mas acessada pelos alunos por meio de uma plataforma virtual. Pode ou não ter interação em tempo real
Jogos eletrônicos
A ferramenta permite que o aluno seja avaliado de acordo com a performance e o progresso em uma atividade lúdica