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Professor avalia redação que teve nota 'média' no Enem 2016; confira dicas

Professor aponta fragilidades de uma redação considerada 'média', que recebeu menos de 600 pontos no Enem 2016. O tema foi 'Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil'. Inspire-se nos comentários de olho na nota mil.

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Redação que recebeu nota abaixo de 600 pontos no Enem 2016
Redação que recebeu nota abaixo de 600 pontos no Enem 2016

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A afirmação contradiz conhecimentos históricos acerca das primeiras Constituições e das relações entre Estado e Igreja Católica durante o século 19. A Carta Magna de 1824, por exemplo, determinava o catolicismo como religião oficial do Império, atributo que seria revogado na Constituição de 1891

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Essa definição, ao considerar a laicidade do Estado sob a ótica da igualdade entre as religiões, escolhe um aspecto do tema que não é o central. Os textos motivadores da proposta de redação e o parágrafo de instrução do tema põem em discussão o direito à liberdade de consciência e sua expressão por meio de cultos religiosos variados, a garantia de proteção ao indivíduo contra formas de discriminação por crença e a defesa de um Estado laico, conforme preconiza a Constituição Federal

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A coerência da afirmação ficou comprometida pela forte carga de sentido do termo "comandada". É verdade que os princípios morais e religiosos das bancadas evangélicas exercem, nas casas legislativas, influência em debates sobre problemas sociais. Mas não se pode afirmar, sem contestação, que a política brasileira seja comandada por um grupo de religiosos. Essa generalização enfraquece o argumento

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Apontar só a pena branda como causa do preconceito é incorrer em simplismo de análise: um fenômeno complexo -que envolve um amplo sistema de valores, tanto pessoais como sociais, e uma herança cultural moldada durante séculos- não pode ser resumido a uma de suas faces

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O termo "mídia" faz menção a outros veículos de comunicação que não só a TV, como o rádio, a imprensa escrita e a internet. Essa amplitude de meios de comunicação torna pouco plausível a ideia de que não se mostra na mídia caso algum de intolerância religiosa

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Essa proposta de intervenção apresenta dois problemas que a invalidam. Em primeiro lugar, ela não explicita sua relação com o tema, com a análise que se pretendeu fazer no texto (e não basta deixar implícita a relação entre reforma política e diminuição da intolerância religiosa ou fortalecimento da laicidade do Estado) até porque não se pode afirmar, com segurança, que eram essas as perspectivas do autor ao redigir. Em segundo lugar, essa proposta de intervenção é demasiadamente vaga: a reforma política seria de que ordem? Alteraria a força política das bancadas religiosas? Sem essa discriminação da proposta, ela perde força e será lida como um clichê, fruto de pouca reflexão

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A formação de bancadas de outras religiões depende do voto dos cidadãos, não de uma reforma política que parta do governo, a não ser que se cogite a reserva de cotas para religiões, algo que vai contra o espírito laico do Estado. Além disso, a proposta do autor segue o viés tangente ao tema que se vê também no primeiro parágrafo, ao encarar a laicidade do Estado pela ótica da proporcionalidade de religiões nas esferas do poder

Sérgio Paganim é professor de língua portuguesa do Anglo

Keiny Andrade/Folhapress
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