Folha de S. Paulo


Cursinhos pré-vestibular usam até passeios para ajudar candidatos

Para quem presta vestibular no meio do ano, não há tempo a perder. Nos cursinhos, as estratégias para garantir que o aluno absorva o conteúdo em apenas cinco meses vão das tradicionais brincadeiras para ajudar a decorar o conteúdo a discursos de encorajamento e visitas a locais históricos.

No Hexag, cursinho focado na prova semestral do Mackenzie (SP), os alunos já viajaram ao Rio de Janeiro para relacionar a arquitetura barroca do Mosteiro de São Bento com a literatura brasileira do século 16.

O professor de literatura da instituição, Lucas Limberti, também já levou a turma para conhecer o Jardim Botânico, presente na obra da escritora Clarice Lispector.

A ideia, diz Limberti, é contextualizar o material apresentado em aula com exemplos reais fora da sala, o que ajuda a aguçar a memória dos estudantes.

Keiny Andrade/Folhapress
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No cursinho Anglo, em São Paulo, uma preocupação é diminuir a ansiedade dos estudantes. O professor de história e coordenador da unidade Tamandaré da instituição, Daniel Perry, costuma dizer palavras de encorajamento aos alunos e lembrá-los de que essas provas são menos concorridas do que parecem, já que muitos dos inscritos são treineiros, interessados só no exame de fim de ano.

Perry ensina também alguns macetes para manter a calma na prova, como intercalar disciplinas de humanas e de exatas para evitar que o cérebro se canse antes da hora.

Outro truque é resolver as questões mais fáceis imediatamente -um jeito de cultivar o ânimo e ganhar fôlego para encarar os temas mais complexos em um bom ritmo.

"Uma estratégia eficiente para fazer a prova chega a compensar a deficiência de conteúdo", afirma o professor de história.

Perry conta ainda aos alunos alguns segredos das provas. A primeira fase do vestibular da Unesp (Universidade Estadual Paulista) tem 90 questões de múltipla escolha cujas respostas corretas estão igualmente divididas: 18 para cada alternativa (a, b, c, d ou e). "Isso ajuda muito na última hora de prova, quando o candidato precisa chutar questões."

O aluno Bruno Bontempo, 17, usa os simulados do Anglo para testar esses métodos. "Começando pelo que é mais simples, consigo ser ágil. Sobra tempo para resolver as questões mais difíceis sem pressa." O estudante busca uma vaga em administração na ESPM ou na Universidade Presbiteriana Mackenzie, ambas em São Paulo.

DECOREBA

Como forma de poupar tempo, cursinhos têm repaginado a estratégia para decorar conteúdos. Em vez da mera repetição à exaustão, o professor explica o significado de cada conceito.

"Quando os alunos precisam decorar o nome científico de um animal, por exemplo, é importante explicar o que significam as palavras em latim que determinam aquele nome", diz Lucas D'Andrea, professor de biologia do MedEnsina, cursinho da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

"Aquele nome geralmente explicará uma característica do animal e, assim, as palavras ganharão sentido para quem precisa memorizá-las."

O professor D'Andrea também relaciona o conteúdo da sala de aula com momentos do dia a dia. "Ensinamos, por exemplo, que os dedos enrugam na água por causa da osmose. Isso permite que o candidato desmistifique as disciplinas e veja que não é nada de outro mundo."

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A ARTE DE ESTUDAR

APLICAÇÃO
Esqueça a frase "nunca vou usar isso na vida". Ao aprender um conceito complexo, busque um exemplo no dia a dia para tornar a coisa mais palpável

BAGAGEM
O repertório cultural é tão importante quanto o material das apostilas. Não adianta saber a tabela periódica e não entender a crise política no país

MÉTODO
Na prova, é melhor intercalar questões de humanas e exatas para não cansar o cérebro. E resolver as mais simples primeiro para ganhar confiança

ARGUMENTAÇÃO
Na redação, vale pensar perguntas cujas respostas reforcem a argumentação. Sempre foi assim? O que mudou? E em outros países?


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